domingo, 21 de dezembro de 2014

Interpretação Mística do Natal



PREFÁCIO

O conteúdo deste livro foi enviado periodicamente pelo autor, em forma de lições, aos estudantes. Abrange seis das suas noventa e nove cartas. A principal característica dessas lições refere-se ao nascimento místico e à morte do grande Espírito Cristo, abordados sob o ponto de vista de um vidente. O autor recebeu estas jóias raras da verdade através de iluminação divina. O mais positivo materialista deverá convencer-se da divindade do homem após ler as revelações do autor sobre o significado oculto do Cristo e os princípios por Ele proclamados.
Dezessete das noventa e nove lições foram editadas em forma de livro sob o título "A Teia do Destino"; nove foram publicadas sob o título "Maçonaria e Catolicismo"; dezenove no livro "Os Mistérios das Grandes Óperas"; vinte e quatro sob o título "Coletâneas de Um Místico"; e as restantes publicaremos no segundo volume da coletânea.
Esperamos que a leitura atenta deste volume sobre a sagrada vida de Cristo incentive uma veneração maior pela religião Cristã, tornando-a mais aceitável à razão através da obra inspirada do seu autor, cujo principal objetivo, enquanto viveu, foi o de transmitir o ideal de Cristo, na humilde tarefa de servir mais perto dos corações dos homens.
Mrs. Max Heindel
28 de outubro de 1920.
O Significado Cósmico do Natal

Mais uma vez, no decorrer do ano, estamos às vésperas de Natal. A visão de cada um de nós sobre esta festividade difere uma da outra. Para o religioso devoto é um período reverenciado, sagrado e repleto de mistério, não menos sublime por ser incompreendido. Para o ateu é uma tola superstição. Para o puramente intelectual é um enigma, pois está além da razão.
Nas igrejas narra-se a história de como na noite mais santa do ano, Nosso Senhor e Salvador, imaculadamente concebido, nasceu de uma virgem. Nenhuma outra explicação é dada; o assunto é deixado a critério do ouvinte que o aceita ou rejeita, de acordo com o seu temperamento. Se a mente e a razão levam-no a excluir a fé, se ele vê apenas o que pode ser demonstrado aos sentidos, então, é forçado a rejeitar a narrativa como absurda e desarmônica com as várias e imutáveis leis da natureza.
Interpretações diferentes têm sido dadas para satisfazerem a mente, principalmente as de natureza astronômica. Diz-se que na noite de 24 para 25 de dezembro, o Sol começa sua jornada do sul para o norte. Ele é a "Luz do Mundo". O frio e a fome exterminariam inevitavelmente a raça humana se o Sol permanecesse sempre no sul. Por isso, é motivo de grande regozijo quando ele começa sua jornada em direção ao norte, pelo que é então aclamado "Salvador", pois vem "salvar o mundo", vem para dar o "pão da vida" quando amadurece o grão e a uva. Assim, "Ele dá sua vida na cruz (cificação) do equador (no equinócio da primavera) e começa sua ascensão no céu (norte). Na noite em que começa sua jornada em direção ao norte, o signo Virgo, a Virgem Celestial, a "Rainha do Céu", está no horizonte astrologicamente, "seu signo Ascendente". Portanto Ele "nasce de uma virgem", sem intermediários, sendo daí "concebido imaculadamente".
Esta interpretação pode satisfazer a mente quanto à origem da suposta superstição, mas o lamentável vazio que existe no coração de todo cético, esteja ou não ciente do fato, deve permanecer até que a iluminação espiritual seja alcançada, a qual fornecerá uma explicação aceitável tanto ao coração como à mente. Derramar tal luz sobre este mistério sublime será nosso empenho neste livro. A concepção imaculada será o assunto da lição seguinte. Por enquanto, queremos mostrar como as forças materiais e espirituais fluem e refluem alternadamente no decurso do ano, e por que no Natal é realmente um "dia santo".
Digamos que concordamos com a interpretação astronômica, assim como é verdadeiro o que se segue quando contemplamos o nascimento místico sob outro ângulo. O Sol nasce, ano após ano, na noite mais escura. Os Cristos Salvadores do mundo nascem também quando as trevas espirituais da humanidade são maiores. Há um terceiro aspecto de suprema importância, isto é, não há nenhuma futilidade nas palavras de Paulo quando ele fala do Cristo sendo "formado em vós". É um fato sublime que todos somos Cristos-em-formação, de modo que quando compreendemos que temos de cultivar o Cristo interno antes que possamos perceber o Cristo externo, mais apressaremos o dia da nossa iluminação espiritual.
Citamos novamente nosso aforismo preferido, de Angelus Silesius, cuja sublime percepção espiritual fê-lo proferir:
"Ainda que Cristo nascesse mil vezes em Belém,
Se não nascer dentro de ti, tua alma ficará perdida.
Em vão olharás a Cruz do Gólgota
A menos que dentro de ti, ela seja
novamente erguida. "

No solstício de verão, em junho, a Terra está mais distante do Sol, mas o raio solar atinge-a quase em ângulo reto em relação ao seu eixo no Hemisfério Norte, resultando daí o alto grau de atividade física. Nessa ocasião, as irradiações espirituais do Sol são oblíquas a essa parte da Terra e são tão fracas como os raios físicos quando são oblíquos.

Porém, no solstício de inverno, a Terra está mais perto do Sol. Os raios espirituais caem em ângulos retos na superfície da Terra no Hemisfério Norte, estimulando a espiritualidade, enquanto as atividades físicas diminuem em razão do ângulo oblíquo em que o raio solar atinge a superfície de nosso planeta. Por este princípio, na noite entre 24 e 25 de dezembro, as atividades físicas estão no seu mais baixo nível e as forças espirituais no seu mais elevado fluxo, por isso, ela é chamada a "noite mais santa do ano". Por sua vez, o pleno verão é a época de divertimento para duendes e entidades semelhantes interessadas no desenvolvimento material do nosso planeta, conforme demonstrado por Shakespeare no seu "Sonho de Uma Noite de Verão".
Se nadarmos quando a maré está mais forte, alcançaremos uma distância maior com menos esforço do que em qualquer outra ocasião. É de grande importância para o estudante esotérico saber e compreender as condições especialmente favoráveis que prevalecem na época do Natal. Sigamos a exortação de Paulo, Cap. 12 aos Hebreus, atirando à distância toda carga embaraçante, como fazem os indivíduos que correm numa competição. Batamos no ferro enquanto ele está quente. Isso significa que devemos nessa época do ano concentrar todas as nossas energias em esforços espirituais para colher o que não conseguiríamos obter em nenhuma outra ocasião.

Lembremo-nos também que o aperfeiçoamento próprio não deve ser a nossa única consideração. Somos discípulos de Cristo. Se aspiramos ser distinguidos, lembremo-nos do que Ele disse: "Aquele que quiser ser o maior entre vós, seja o SERVO de todos". Existe muita aflição e sofrimento à nossa volta; há muitos corações solitários e doloridos em nosso círculo de conhecidos. Busquemo-los de maneira discreta. Em nenhuma outra época do ano serão mais sensíveis aos nossos desvelos. Espalhemos a luz do Sol em seus caminhos. Desse modo ganharemos suas bênçãos e também as dos nossos Irmãos Maiores. Por sua vez, as vibrações resultantes promoverão um crescimento espiritual impossível de ser atingido por qualquer outro modo.


No ano passado, nosso Curso de Cristianismo Místico por correspondência começou com uma lição sobre o Natal, do ponto de vista cósmico. Explicamos então que os solstícios de verão e inverno, juntamente com os equinócios de primavera e outono, constituem os pontos decisivos na vida do Grande Espírito da Terra, assim como a concepção assinala o início da descida do Espírito Humano ao corpo físico, resultando em nascimento, o qual inaugura o período de crescimento até que a maturidade seja alcançada. Neste ponto começa uma época de sobriedade e amadurecimento, juntamente com o declínio das energias físicas que terminam em morte. Este acontecimento liberta o homem dos obstáculos da matéria e conduz a um período de metabolismo espiritual, por meio do qual nossa colheita de experiências terrenas é transmutada em poderes anímicos, talentos e tendências. Estes serão postos a render juros nas vidas futuras, para que possamos crescer mais rica e abundantemente com a posse de tais tesouros e sermos considerados dignos, como "administradores fiéis", para assumirmos postos cada vez mais elevados entre os servos da Casa do Pai.
Esta ilustração apoia-se sobre o firme alicerce da grande Lei de Analogia, tão sucintamente expressa pelo axioma hermético: "Assim como é em cima, assim é em baixo". Baseados nisto, que é uma chave-mestra para todos os problemas espirituais, dependemos também de um "abre-te-sésamo" para as nossas lições do Natal deste ano. Assim, esperemos poder corrigir, confirmar ou completar pontos de vista dos nossos estudantes, conforme requeira cada caso.
Os corpos, originalmente cristalizados na terrível temperatura da Lemúria, eram demasiado quentes para conter umidade suficiente que permitisse ao espírito acesso livre e irrestrito a todas as partes da anatomia, conforme ele agora o consegue através do sangue circulante. Mais tarde, no começo da Época Atlante, os corpos possuíam sangue, mas moviam-se com dificuldade, e teriam secado rapidamente, em razão da alta temperatura interna, não fora o fato de prevalecer naquela atmosfera aquosa uma farta umidade. A inalação desse solvente atenuava grandemente o calor e abrandava o corpo, até que uma quantidade suficiente de umidade pôde ser retida nele, permitindo a respiração na atmosfera relativamente seca que aconteceu mais tarde.
Os corpos dos primitivos Atlantes eram de uma substância granulosa e fibrosa, não diferentes dos nossos atuais tendões, lembrando também madeira. Porém, com o tempo, o hábito adquirido de comer carne, capacitou o homem a assimilar albumina suficiente para construir tecido elástico necessário à formação dos pulmões e artérias, permitindo assim a livre circulação do sangue, conforme se verifica agora em todo o sistema. Na época em que aconteceram essas mudanças internas e externas, o grande e glorioso arco de sete cores surgiu no céu carregado de nuvens para assinalar o advento do Reino do Homem, onde as condições viriam a ser tão variadas como os matizes que colorem a atmosfera ao refratar a luz solar de uma só cor. Portanto, o primeiro aparecimento do arco-íris nas nuvens marcou o início da era de Noé, com suas estações e períodos alternantes, dos quais o Natal é um deles.
Contudo, as condições prevalecentes neste período não são tão estáveis, como não o eram as dos períodos anteriores. O processo de condensação que transformou o nevoeiro ardente da Lemúria em atmosfera de umidade densa da Época Atlante, e mais tarde se liquifez em água que inundou as cavidades da terra e impeliu a humanidade para as montanhas, ainda continua. Ambas, a atmosfera e nossa condição fisiológica estão mudando, anunciando, aos que sabem ver e compreender, a aurora de um novo dia no horizonte, a época de unificação mencionada na Bíblia como O Reino de Deus.
A Bíblia não nos deixa dúvidas a respeito das mudanças. Cristo disse que, como nos dias de Noé, assim deverá ser nos dias vindouros. Ciência e invenção encontram agora condições que não existiam anteriormente. É fato científico que o oxigênio está sendo consumido em quantidades alarmantes, alimentando as fogueiras das indústrias. Incêndios nas florestas também sorvem em grande escala o nosso estoque desse elemento importante, além de aumentar o processo secante a que a atmosfera está naturalmente submetida. Eminentes cientistas afirmam que chegará o dia em que o globo não poderá sustentar a vida que depende da água e do ar para existir. Suas idéias não nos afligem tanto, pois a data que apontam ainda está muito distante. Mas, mesmo que seja assim, o destino da Época Ária é tão inevitável quanto o da Atlântida inundada.
Pudesse um Atlante ser transferido para nossa atmosfera, seria asfixiado como um peixe fora de seu elemento natural. Quadros vistos na Memória da Natureza provam que os aviadores pioneiros daquela época, desmaiavam realmente quando encontravam essas correntes de ar que desciam gradualmente sobre a terra que habitavam. Tais experiências suscitavam muitos comentários e especulações. Os aviadores de hoje já estão encontrando o novo elemento e experimentando a sensação de asfixia, conforme experimentaram os seus ancestrais Atlantes e, por razões análogas, encontraram o novo elemento descendo do alto. Este elemento tomará o lugar do oxigênio da nossa atmosfera. Existe também uma nova substância introduzindo-se na constituição humana e que substituirá a albumina. Ademais, assim como os aviadores da Época Atlante desmaiavam e eram impedidos pela corrente descendente de ar de penetrar antecipadamente na Ária, a terra prometida, assim também o novo elemento desafia os aviadores de hoje e a humanidade em geral, até que todos tenham aprendido a assimilar seus aspectos materiais. Tal como os Atlantes, cujos pulmões são estavam desenvolvidos e sucumbiram na inundação, assim também a nova era encontrará alguns sem o "Manto Nupcial", e portanto incapacitados para entrar nela, até que se qualifiquem num período posterior. Por isso, é da maior importância para todos saber a respeito do novo elemento e da nova substância. A Bíblia e a Ciência, unidas, fornecem ampla informação a respeito do assunto.
Na Grécia antiga, conforme mencionamos antes, religião e ciência eram ensinadas nos templos de mistério, juntamente com a arte superior e o artesanato, como uma doutrina única de vida e de ser. Contudo, essa condição foi temporariamente suspensa para facilitar determinadas fases do desenvolvimento. A união das linguagens religiosa e científica na Grécia antiga facilitava a compreensão dessas matérias. No entanto, hoje em dia, as dificuldades repousam no fato de que a religião traduziu e a ciência simplesmente transferiu seus termos do Grego original, o que tem causado muitas divergências e a perda do elo entre as descobertas da ciência e os ensinamentos da religião.
Para chegarmos a uma desejada compreensão das mudanças fisiológicas que prosseguem agora em nosso sistema, podemos lembrar que, segundo a ciência, os lóbulos frontais do cérebro estão entre as estruturas humanas de mais recente desenvolvimento e que, proporcionalmente, este órgão é muito maior no homem do que em qualquer outra criatura. Agora, a pergunta: "Existe no cérebro alguma substância peculiar, e se existe, qual pode ser seu significado? "
A primeira parte da pergunta pode ser respondida por qualquer obra científica relativa ao assunto, mas o livro O Conceito Rosacruz do Cosmos fornece mais subsídios, conforme transcrevemos abaixo:
"O cérebro... é formado das mesmas substâncias que compõem todas as outras partes do corpo, acrescidas de fósforo, que é peculiar somente ao cérebro. A conclusão lógica é que o fósforo é o elemento particular por meio do qual o Ego capacita-se a expressar pensamento... Descobriu-se que a proporção e variação dessa substância correspondem ao estado e fase de inteligência do indivíduo. Assim, os idiotas possuem pouquíssimo fósforo, enquanto o pensador arguto tem-no em abundância... É pois de grande importância que o aspirante, cujo veículo físico vai se utilizado no trabalho mental e espiritual, supra seu cérebro da substância necessária a esse propósito".
A indiscutível religiosidade dos Católicos é verificável na prática de comer peixe, alimento rico em fósforo, às Sextas-Feiras e na Quaresma. Ainda que o peixe pertença a uma ordem de vida inferior, O Conceito Rosacruz do Cosmos não aprova a sua matança, indicando ao estudante certas verduras através das quais pode conseguir fisicamente abundância dessa desejável substância. Existem outros e melhores meios para essa obtenção, embora não mencionados em O Conceito.
Não foi por acaso que os Mestres da Escola de Mistério Grega denominaram assim essa substância luminosa que conhecemos por fósforo. Para eles era patente que "Deus é Luz"- a palavra grega designativa de luz é phos. Portanto, muito apropriadamente, eles denominaram a substância do cérebro, que é a avenida de ingresso do impulso divino, phos-phorus, literalmente "portador da luz". Na medida em que formos capazes de assimilar essa substância, enchemo-nos de luz e começamos a brilhar a partir de dentro, circundando-nos, então, um halo como uma marca de santidade. O fósforo, contudo, é apenas um meio físico que possibilita a luz espiritual expressar-se através do cérebro físico, sendo a luz, em si mesma, um produto do crescimento anímico. Mas o crescimento anímico capacita o cérebro a assimilar quantidades crescentes de fósforo, pelo que o método para a aquisição dessa substância em maiores quantidades não deve ser pelo metabolismo químico e sim pelo processo alquímico do crescimento anímico, o que foi totalmente esclarecido por Cristo quando Ele disse a Nicodemus:
"Deus não enviou Seu Filho ao mundo para condenar o mundo... Aquele que n´Ele crê não é condenado, mas aquele que não crê já está condenado.
...E esta é a condenação, que a luz veio ao mundo e o homem amou mais as trevas do que a luz...
...Pois todo aquele que pratica o mal, aborrece a luz e não se chega para a luz, a fim de não serem reprovadas as suas obras. Mas aquele que pratica a verdade aproxima-se da luz a fim de que as suas obras sejam manifestadas, porque são feitas em Deus". (João 3:17-21).
O Natal é a época do ano de maior luz espiritual. Durante esta era de ciclos alternantes há marés altas e baixas de luz espiritual, como acontece com as águas do oceano. A primitiva Igreja Cristã marcou a concepção no outono do ano (no Hemisfério Norte), de modo que até hoje o evento é celebrado pela Igreja Católica quando a grande onda de vida e luz espirituais começam a sua descida à Terra. O ponto máximo de maré é alcançado no Natal, sendo esta verdadeiramente a época santa do ano, a ocasião em que esta luz espiritual é mais facilmente contatada e especializada pelo aspirante através de atos de compaixão, gentileza e amor. Oportunidades para esses atos não faltam, nem mesmo para os mais pobres, porque conforme enfatizam freqüentemente os Ensinamentos Rosacruzes, o serviço conta mais que o auxílio financeiro, que pode até ser prejudicial a quem o recebe. Todavia, "a quem muito é dado, muito será exigido" e, se alguém foi abençoado com abundância de bens do mundo, uma cuidadosa distribuição dos mesmos deve necessariamente ser observada em qualquer oportunidade de servir. Recordemos ainda as palavras de Cristo: "Em verdade vos digo, sempre que fizerdes isto a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fazeis"(Mat. 25:40). Sigamo-Lo pois, como luzes ardentes e brilhantes, mostrando o caminho para a Nova Era.


Você já esteve ao lado do leito de um amigo ou parente que se encontrasse prestes a passar deste mundo para o além? Muitos de nós já tivemos essa experiência, pois qual o lar que não foi visitado pelo Pai Tempo? Nem é incomum a fase que se segue ao ocorrido, à qual devemos prestar atenção especial. A pessoa ao transpor os umbrais do invisível, muitas vezes fica em estado de torpor. Então acorda, e vê não apenas este mundo, mas também o mundo em que está prestes a entrar. É muito significativo que nesses momentos ela vê pessoas que foram suas amigas ou parentes nesta vida física - filhos, filhas, esposa ou qualquer pessoa que lhe tenha sido realmente muito próxima ou muito querida - postadas ao redor do seu leito e aguardando o momento da transição. A mãe pode estender os braços: "Oh! é o João e como ele cresceu! Que esplêndido rapaz está!". Deste modo ela pode reconhecer, um após outro, todos os filhos já falecidos. Estes estão reunidos em volta da sua cama à espera que ela vá unir-se a eles, invadidos pela mesma sensação que assalta as pessoas quando uma criança está para nascer neste mundo: o regozijo pela chegada de alguém que eles sentem, instintivamente, ser um amigo que regressa a eles.
O mesmo se dá com as pessoas que, tendo passado, antes ao além, reúnem-se para receber um amigo que está prestes a cruzar a fronteira e juntar-se a eles do outro lado do véu. Vemos assim que o nascimento em um mundo é morte, sob o ponto de vista do outro mundo, isto é, a criança que vem a nós morre para o mundo espiritual, e a pessoa que sai do alcance dos nossos olhos ao transpor o véu pela morte, nasce em novo mundo e junta-se a seus amigos.
"Como é em cima, assim é em baixo". A Lei da Analogia, que é a mesma para o microcosmo e para o macrocosmo, diz-nos que aquilo que acontece ao ser humano sob determinada condições, deve também aplicar-se ao sobre-humano em circunstâncias análogas. Estamos nos aproximando do solstício de inverno (no Hemisfério Norte), dos dias mais escuros do ano, época em que a luz brilha com menos intensidade quando o Hemisfério Norte se torna frio e melancólico. Porém, na noite mais longa e mais escura do ano, quando o Sol retoma o seu caminho ascendente, a luz de Cristo nasce de novo na Terra e o mundo inteiro rejubila. No entanto, conforme nossa analogia, quando Cristo nasce na Terra, Ele morre no céu. Assim como o espírito, livre ao nascer, fica fortemente enclausurado no véu da carne, que o restringe por toda a vida física, assim também o Espírito de Cristo é agrilhoado e tolhido toda vez que nasce na Terra. Este grande Sacrifício Anual - começa quando soam os nossos sinos de Natal, quando os alegres sons do nosso louvor e gratidão ascendem aos céus. No mais literal sentido da palavra, Cristo é aprisionado desde o Natal até a Páscoa.
O homem pode zombar da idéia de que existe nessa época do ano um influxo de vida e luz espirituais. Não obstante, isso é um fato, creiamos ou não. Nesta época do ano, no mundo inteiro, todos se sentem mais leves, diferentes, algo como se um fardo fosse tirado dos seus ombros. O espírito de paz na terra e boa vontade entre os homens prevalecem, e o espírito de que nós também devemos dar algo expressa-se nos presentes de Natal. Este espírito não pode ser negado, já que é evidente a qualquer observador e é um reflexo da grande onda de dádiva divina. Deus amou o mundo de tal maneira, que lhe deu Seu Filho único ou Unigênito. O Natal é a época das dádivas, mesmo que a consumação do sacrifício aconteça apenas na Páscoa. Aqui situa-se o ponto crucial, o ponto crítico, quando sentimos ter ocorrido algo que garante a prosperidade e a continuidade do mundo.
Quão diferente é o sentimento do Natal daquele que se manifesta na Páscoa! Neste último há uma expressão de desejo, uma energia que se expressa em amor sexual visando a perpetuação de si mesmo como nota-chave. Quão diferente é o amor que se expressa no espírito de dar ao invés de receber, que sentimos no Natal.
Agora, observe as igrejas. Nunca suas luzes brilham tanto quanto neste dia e nesta noite do ano. Em nenhuma outra ocasião os sinos ressoam tão festivos do que quando proclamam para o mundo a mensagem: "O Cristo nasceu!".
"Deus é Luz", diz o inspirado apóstolo e nenhuma outra descrição é capaz de transmitir tanto da natureza de Deus quanto essas três pequenas palavras. A luz invisível, que se encontra envolvida pela chama sobre o altar, é uma representação cabal de Deus, o Pai. Nos sinos, temos um símbolo muito apropriado de Cristo, a Palavra, pois suas línguas metálicas proclamam a mensagem evangélica de paz e boa vontade, enquanto o incenso, simbolizando maior fervor espiritual, representa o poder do Espírito Santo. Por conseguinte, a Trindade é simbolicamente parte da celebração que faz do Natal a época do ano de maior regozijo espiritual, sob o ponto de vista da raça humana que está atualmente na matéria.
Todavia, não se deve esquecer, conforme dissemos no terceiro parágrafo deste capítulo, que o nascimento de Cristo na Terra significa Sua morte para a glória dos céus, e que, quando nos rejubilamos pelo seu regresso anual a nós, Ele de fato toma novamente sobre Si o pesado fardo físico que cristalizamos ao nosso redor, e que é agora a nossa habitação - a Terra. Neste pesado corpo, Ele é incrustado e espera ansiosamente pelo dia da libertação. Podemos compreender, naturalmente, que existem dias e noites tanto para os maiores espíritos quanto para os seres humanos; que, do mesmo modo que vivemos em nossos corpos durante o dia, cumprindo o destino que nós mesmos criamos no mundo físico e somos liberados à noite para nos recuperarmos nos mundos superiores, assim também existe essa alternância para o Espírito de Cristo. Parte do ano Ele habita o interior do nosso globo, e depois se retira para os mundos superiores. Assim, o Natal é para Cristo o começo de um dia de vida física, o início de um período de limitação.
Qual deve ser, portanto, a aspiração do místico devotado e iluminado, que compreende a grandeza da dádiva de Deus à humanidade nesta época do ano; que compreende este grande sacrifício de Cristo por nossa causa; essa dádiva de Si mesmo sujeitando-se a uma virtual morte para que pudéssemos viver esse maravilhoso amor que se derrama sobre a Terra nessa época? Unicamente a de imitar, mesmo em pequeníssima escala, as maravilhosas obras de Deus. Ele deve aspirar fazer de si mesmo um servo da Cruz como jamais o fora antes; mais disposto a seguir o Cristo em todas as coisas, sacrificando-se a si mesmo pelos seus irmãos e irmãs; colaborando, dentro de sua esfera imediata de trabalho, para a elevação da humanidade, de modo a apressar o dia da libertação pela qual o Espírito de Cristo está esperando, gemendo e labutando. Falamos de uma libertação permanente, do dia e do advento de Cristo.
Para concretizarmos essa aspiração na medida mais ampla, avancemos pelo ano entrante plenos de auto-confiança e fé. Se até aqui temos descrido de nossa capacidade de trabalhar para Cristo, ponhamos de lado essa descrença lembrando o que Ele disse: "Maiores obras que estas vós o fareis!" Teria Ele, que era a Palavra da verdade, dito tais coisas se elas não fossem possíveis? Todas as coisas são possíveis àqueles que amam a Deus. Se de fato trabalharmos em nossa própria pequena esfera, não buscando coisas maiores até havermos feito aquelas que estão à mão, então descobriremos que um maravilhoso crescimento anímico pode ser alcançado, de forma que as pessoas que nos rodeiam possam ver em nós algo que não saberão definir, mas que, não obstante, ser-lhes-á evidente - verão a luz natalina, a luz do Cristo recém-nascido brilhando dentro da nossa esfera de ação. Isto pode ser conseguido; depende apenas de nós mesmos aceitá-Lo por Sua palavra, cumprindo o que Ele ordenou: "Sêde perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está nos céus". A perfeição pode parecer uma longa caminhada. E quanto mais consideramos Cristo, mais nos apercebemos como estamos longe de viver à altura dos nossos ideais. Não obstante, é pela luta diária, hora após hora, que finalmente chegaremos lá. E a cada dia algum progresso pode ser feito, algo pode ser realizado. Podemos deixar a nossa luz brilhar de tal maneira, que os homens a vejam como faróis na escuridão do mundo. Que Deus nos ajude durante o próximo ano a alcançar maior semelhança com Cristo do que jamais conseguimos antes. Vivamos a vida de tal modo que, quando outro ano tiver passado, quando contemplarmos novamente as luzes do Natal e ouvirmos os sinos chamando para as cerimônias da Noite Santa, possamos sentir que não temos vivido em vão.
Cada vez que nos damos completamente ao serviço em benefício dos outros, acrescentamos brilho aos nossos corpos-alma feito de éter. É o éter de Cristo que permite este nosso globo flutuar, e recordemos que, se quisermos trabalhar por sua libertação, devemos todos desenvolver nossos corpos-alma até ao ponto em que eles é que façam flutuar a Terra. Deste modo tomamos o Seu fardo e livramo-Lo da dor da existência física.


Esotericamente e desde épocas imemoriais, o Sol tem sido reverenciado como o dador de vida, porque a multidão era incapaz de ver além do símbolo material de uma grande verdade espiritual. Mas, além daqueles que adoravam a órbita celeste que é vista com o olho físico, sempre houve e continua a haver uma pequena mas crescente minoria, um sacerdócio consagrado pela virtude mais do que por rituais, que viu e vê as eternas verdades espirituais por trás das formas temporais e efêmeras que revestem essas verdades, nas mudanças de cerimonial consoante à época e aos povos a que foram destinadas originalmente. Para estes, a lendária Estrela de Belém brilha todos os anos como o Místico Sol da Meia-Noite, o qual penetra em nosso planeta no solstício de inverno os três atributos divinos: Vida, Luz e Amor. Estes raios de esplendor e poder espirituais inundam o nosso globo com uma luz sobrenatural que envolve todos sobre a Terra, do mais insignificante ao mais importante, sem distinção. Mas nem todos podem participar desse maravilhoso dom na mesma medida. Alguns conseguem mais, outros menos. Alguns nem participam da grande oferta de amor que o Pai preparou para nós em Seu Filho Unigênito, porque ainda não desenvolveram o imã espiritual, o Cristo menino interno, que unicamente pode guiar-nos ao Caminho, à Verdade e à Vida.

“Se não tiver olhos para ver?
Se o Cristo é meu, como posso saber
a não ser através do Cristo em mim?
A voz silenciosa dentro do meu peito
é o penhor do pacto entre Cristo e eu, e enfim
Ela confere a fé, a força do Feito.”

Esta é, sem dúvida, uma experiência mística que soa verdadeira para muitos de nossos estudantes, tão verdadeira como a noite segue-se ao dia e o inverno segue-se ao verão. A menos que tenhamos Cristo dentro de nós, e que um maravilhoso pacto fraternal de sangue tenha sido consumado, não podemos ter parte no Salvador, embora os sinos de Natal nunca parem de soar. Mas, quando Cristo formar-se em nós, quando a imaculada concepção tornar-se uma realidade em nossos próprios corações, quando nos tenhamos postado aos pés do Cristo recém-nascido para oferecer-Lhe os nossos presentes, dedicando a natureza inferior ao serviço do Eu Superior, então, e só então, as festividades natalinas são compartilhadas por nós, ano após ano. E, quanto mais arduamente tenhamos labutado na vinha do Mestre, mais clara e distintamente poderemos ouvir a voz silenciosa em nossos corações, sussurrando o convite: "Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e Eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o Meu jugo... porque o Meu jugo é suave e o Meu fardo é leve". Então, ouviremos uma nova nota nos sinos de Natal como nunca ouvimos antes. porque não há dia mais alegre do que o do nascimento de Cristo, quando Ele renasce na Terra, trazendo consigo presentes para os filhos dos homens - presentes que significam a continuação da vida física, porque sem essa vitalizante e enérgica influência do Espírito de Cristo, a Terra permaneceria fria e árida; não haveria uma nova canção da primavera, nem os pequeninos coristas da floresta para alegrar os nossos corações à chegada do verão. A pressão gélida dos pólos Boreais manteria a Terra agrilhoada e muda para sempre, impossibilitando-nos de prosseguir em nossa evolução material, tão necessária para aprendermos a usar a força do pensamento através de canais criativos apropriados.

O espírito de Natal é, pois, uma realidade viva para todo aquele que já desenvolveu o Cristo interno. O homem e a mulher comum sentem esse espírito somente nas proximidades das festas natalinas, mas o místico iluminado pode vê-lo e senti-lo meses antes e meses depois do seu ponto culminante na Noite Santa. Em setembro ocorre uma mudança na atmosfera terrestre; uma luz começa a brilhar nos céus. Essa luz parece permear todo o universo solar e, gradualmente, vai crescendo em intensidade, parecendo envolver o nosso globo. Então, ela penetra a superfície do planeta e, pouca a pouco, concentra-se no seu centro, onde os espíritos-grupo das plantas têm o seu lar. Na Noite Santa ela alcança o mínimo de seu tamanho e o máximo de seu fulgor. Então, passa a irradiar luz concentrada, dando nova vida à Terra para que esta prossiga com as atividades da Natureza no ano entrante.
Isso é o começo do grande drama cósmico ‘Do Berço à Cruz", que acontece anualmente durante os meses de inverno (no Hemisfério Norte).

Cosmicamente, o Sol nasce na mais longa e escura noite do ano, quando o signo zodiacal Virgo - a Virgem Celestial - situa-se no horizonte oriental a meia-noite para dar à luz o Filho Imaculado. Durante os meses que se seguem, o Sol transita pelo Violento signo de Capricornus onde, segundo a mitologia, todos os poderes das trevas concentram-se em frenético esforço para matar o Portador-da-Luz, fase do drama solar que é apresentado misticamente no episódio da perseguição movida pelo rei Herodes, e a fuga de Jesus para o Egito a fim de escapar à morte.

Quando em fevereiro o Sol entra no signo de Aquarius - o Portador-da-Água - temos a época das chuvas e tempestades e, do mesmo modo que o batismo consagra misticamente o Salvador à sua obra de serviço, assim também a abundância de umidade que desce sobre a Terra torna-a de tal maneira branda e rica, que pode produzir frutos para preservar a vida de todos os que nela habitam.

A seguir, o Sol transita pelo signo de Pisces - os Peixes. Nesta altura, os estoques de alimentos do ano anterior já foram quase totalmente consumidos, de forma que as provisões do homem ficam escassas. Temos, por conseguinte, o longo jejum da Quaresma, que representa misticamente para o aspirante o mesmo ideal mostrado cosmicamente pelo Sol. Neste momento do ano ocorre o carne-vale (carnaval), o adeus à carne, pois todo aquele que aspira a vida superior precisa algum dia despedir-se para a Páscoa que, então, aproxima-se.

Em abril, quando o Sol cruza o equador celestial e entra no signo de Áries - o Cordeiro - a cruz se ergue como um símbolo místico que o candidato à vida superior precisa entender e, em seguida, aprender a abandonar o veículo mortal e começar a escalada para o Gólgota, o lugar na caveira e daí cruzar o limiar do mundo invisível. Finalmente, imitando a subida do Sol para os céus do norte, ele precisa aprender que o seu lugar é com o Pai e, com todo fervor, deve elevar-se até aquele exaltado lugar. Assim como o Sol não permanece naquele alto grau de declinação, mas ciclicamente desce para o equinócio de outono e solstício de inverno a fim de completar muitas vezes o círculo para benefício da humanidade, do mesmo modo todo aquele que aspira tornar-se um Caráter Cósmico, um salvador da humanidade, precisa preparar-se para oferecer-se muitas vezes como um sacrifício em benefício de seus semelhantes.

Este é o grande destino colocado diante de nós. Cada um é um Cristo-em-formação, se o quiser ser, porque como disse Cristo aos Seus discípulos: "Aquele que crer em Mim fará também as obras que faço, e maiores ainda". Além disso e de acordo com a máxima: "A necessidade do homem é a oportunidade de Deus", nunca houve tão grande oportunidade de imitar o Cristo, de fazer as obras que Ele fez, como nos dias que correm, quando todo o continente europeu vive sob o paroxismo de uma guerra mundial e quando o maior de todos os cânticos de Natal - "Paz na Terra e boa vontade entre os homens"(Lucas 2:14) parece mais longe de concretizar-se do que nunca. Temos em nós o poder de apressar o dia da paz ao falar, pensar e viver em PAZ, pois a ação conjunta de milhares de pessoas transmite impressões ao Espírito de Raça quando a ele enviadas, especialmente quando a Lua está em Cancer, Scorpio ou Pisces, que são os três grandes signos psíquicos mais apropriados para trabalhos ocultos dessa natureza. Usemos os dois dias e meio que a Lua transita por cada um desses signos para propósito de meditar sobre a paz - Paz na Terra e boa vontade entre os homens. Mas, ao fazê-lo, estejamos certos de não tomar partido, a favor ou contra, por quaisquer das nações conflitantes. Lembremos a todo instante que cada um dos seus membros é nosso irmão. Cada um merece o nosso amor tanto quanto o outro. Tenhamos em mente que o que queremos ver é a Fraternidade Universal sobre a Terra, ou seja, a paz na Terra e boa vontade entre os homens, a despeito de terem os combatentes nascido de um lado ou de outro das linhas traçadas nos mapas, ou como eles se expressam neste, naquele ou em qualquer outro idioma. Oremos para que a paz possa reinar sobre a Terra. Uma paz duradoura e uma boa vontade entre todos os homens, não importando quaisquer diferenças de raça, cor ou religião. Na medida em que tenhamos êxito em formular com os nossos corações e não apenas com os nossos lábios essa prece impessoal a favor da paz, estaremos antecipando a chegada do Reinado de Cristo para recordar que é a Ele que estamos todos destinados na época oportuna - o reino dos céus, onde Cristo é "Rei dos reis e Senhor dos senhores".


Sempre que nos defrontamos com um dos mistérios da natureza que não compreendemos, simplesmente acrescentamos um novo termo ao nosso vocabulário, uma espécie de truque para ocultar a nossa ignorância a respeito do assunto. O exemplo temos em relação a palavra "ampére" que utilizamos para medir o volume da corrente elétrica e a voltagem que empregamos para medir a força da corrente, e o "ohm" que empregamos para assinalar o grau de resistência que um dado condutor oferece à passagem da corrente. Dessa maneira, depois de muito estudar a respeito de termos e figuras, as mentes mestras da ciência elétrica tentam persuadir-se e aos demais que compreenderam e penetraram no mistério dessa força ilusória que desempenha um papel tão importante no trabalho do mundo. Mas, depois de tudo dito, esses homens iminentes admitem que as mais brilhantes luzes da ciência elétrica não conhecem senão um pouquinho mais do que uma criança da escola primária quando começa a experiência com pilhas e baterias.
O mesmo se passa com as outras ciências. Os anatomistas não podem distinguir o embrião de um cão do de um ser humano durante um longo período, e enquanto o fisiologista discorre com autoridade sobre o metabolismo, não pode deixar de admitir que as experiências de laboratório, pelas quais se esforça para imitar nosso processo digestivo, devem ser e são muito diferentes das transmutações que se operam no laboratório químico do corpo, pela alimentação que ingerimos. Isto não é dito para desacreditar ou menosprezar as maravilhosas descobertas da ciência, mas para demonstrar que existem fatores por detrás de todas as manifestações da natureza - inteligências de diversos graus de consciência, construtivas e destrutivas, que desempenham parte importante na economia da natureza - e até que esses agentes sejam identificados e seu trabalho estudado, nós mão podemos ter um conceito adequado do modo como atuam essas forças da natureza, as quais chamamos calor, eletricidade, gravidade, ação química, etc.. Para os que cultivam a visão espiritual, é evidente que os chamados mortos empregam parte de seu tempo em aprender a construir corpos sob a direção de certas hierarquias espirituais. Eles são os processos metabólicos e anabólicos; eles são os fatores invisíveis na assimilação e é, portanto, literalmente exato que seriamos incapazes de viver sem a importante ajuda daqueles que chamamos mortos.
Para conceber a idéia de como esses agentes trabalham e da sua relação conosco, podemos citar um exemplo mencionado no Conceito Rosacruz do Cosmos. Suponhamos que um carpinteiro está construindo uma mesa, e um cachorro, que é um espírito em evolução pertencente a uma outra onda de vida, está observando-o. Ele vê o processo de cortar tábuas; gradualmente a mesa é formada desse material e finalmente fica pronta. Mas, ainda que o cão esteja atento ao trabalho do homem, ele não tem um conceito claro de como esse trabalho foi feito, nem do uso final da mesa. Suponhamos ainda mais, que o cachorro estivesse dotado somente de uma limitada visão e incapaz de perceber o carpinteiro e suas ferramentas; veria somente as tábuas de madeira sendo divididas em partes, depois juntarem-se e ficarem dispostas de outra maneira até a mesa tomar forma e ficar pronta. Ele teria visto o processo da formação e o objeto terminado, mas não teria idéia que a ativa ação do trabalhador foi necessária para transformar a madeira em mesa. Se o cachorro pudesse falar, explicaria a origem da mesa como Topsy1 ( personagem do romance "A Cabana do Pai Tomás" ) referiu-se a si mesma dizendo: "simplesmente cresceu".
Nossa relação com as forças da natureza é semelhante àquela do cachorro com o invisível carpinteiro, e nós somos tão capazes de explicar os mistérios da natureza, como o fez Topsy. Eruditamente, narramos às crianças como o calor do Sol evapora a água dos rios e oceanos, fazendo que este vapor ascenda às regiões mais frias do ar onde se condensa em nuvens, que tornam-se, finalmente, tão saturadas de umidade que elas gravitam em direção à Terra em forma de chuva para preencher os rios e oceanos, e novamente a água ser evaporada. É tudo muito simples, um belo processo automático de movimento contínuo. Mas, é só isso? Não há nesta teoria um número de omissões? Sabemos que sim, embora não possamos desviar-nos muito do nosso assunto para discuti-lo. Falta explicar totalmente uma coisa, a saber, a ação semi-inteligente das sílfides que levantam as delicadas partículas da água volatizada em vapor, e que são separadas da superfície do mar pelas ondinas, que as levam o mais alto possível antes que aconteça a condensação parcial e as nuvens até que as ondinas as forcem a libertá-las. Quando dizemos que há tempestades, na verdade, batalhas estão sendo travadas na superfície do mar e no ar, algumas vezes com a ajuda das salamandras, para acender a tocha do relâmpago dos separados hidrogênio e enviar seu aterrorizante zig-zag através da negra escuridão, seguida do poderoso troar do trovão na atmosfera transparente, enquanto as ondinas triunfalmente lançam as resgatadas gotas de água sobre a Terra para que elas possam novamente unir-se ao seu elemento materno.
Os pequenos gnomos são necessários para construir as plantas e as flores. Seu trabalho é pintá-las com matizes inumeráveis de cor, que deleitam os nossos olhos. Eles também cortam os cristais em todos os minerais e elaboram as gemas valiosas que cintilam nos diademas preciosos.
Sem eles não haveria ferro para nossas máquinas e nem ouro com que pagá-las. Eles estão em todas as partes e a proverbial abelha não é tão atarefada como eles. Enquanto para a abelha é dado todo o crédito pelo trabalho que ela faz, os pequenos espíritos da natureza, que desempenham uma parte imensamente importante no trabalho do mundo, são desconhecidos, salvo por alguns que são chamados de sonhadores ou loucos.
No solstício de verão, as atividades físicas da natureza estão no apogeu ou zênite, portanto, é no "Solstício do Verão" que se realiza o grande festival das fadas que trabalharam para construir o universo material. Nutriram o gado, cultivaram o grão e estão saudando com alegria e dando graças à onda de força, que é a sua ferramenta, para colorir as flores, na assombrosa variedade de delicados matizes requeridos por seus arquétipos, pintando-as em inúmeras tonalidades que são o prazer e o desespero do artista.
Na maior de todas as noites da alegre estação do verão, as fadas se reúnem vindas dos pântanos e das florestas, dos estreitos e pequenos vales para o Festival das Fadas. Elas realmente cozem e preparam seus alimentos etéricos e, mais tarde, dançam em êxtases de alegria - a alegria de terem realizado o seu trabalho e desempenhado importante papel na economia da natureza.
É um axioma científico que a natureza não tolera o que é inútil; os parasitas e os zangões são uma abominação; o órgão que se torna supérfluo atrofia-se, assim também acontece com o membro ou o olho que não é usado. A natureza tem um trabalho a fazer e necessita da colaboração de todos que se propuseram a justificar suas existências, pois todos são parte dele. Isto se aplica à planta, ao planeta, ao homem, ao animal e também às fadas. Elas têm seu trabalho a cumprir; elas são hostes ativas e suas atividades são a solução para muitos mistérios da natureza, como já foi explicado.
Nós estamos agora no outro pólo do ciclo anual, quando os dias são curtos e as noites mais longas. Fisicamente falando, a escuridão cai sobre o Hemisfério Norte, mas a onda espiritual de luz e vida, que será a base do crescimento e progresso do próximo ano, está agora na maior altura e força. Na Noite de Natal, no solstício de inverno, quando o celestial signo da Virgem Imaculada está no horizonte oriental à meia noite, o sol do novo ano nasce para salvar a humanidade do frio e da fome, que continuariam se a manifestação dessa luz fosse suprimida. Nessa ocasião, o Espírito Cristo nasce na Terra e começa a fermentar e fertilizar os milhões de sementes que as fadas prepararam e regaram para que possamos ter alimento físico. Mas "o homem não vive somente de pão". Importante como é o trabalho das fadas, torna-se insignificante comparado com a missão de Cristo, que nos traz a cada ano o alimento espiritual necessário para que avancemos no caminho do progresso, para que possamos alcançar a perfeição no amor com tudo o que ele implica.
É o advento desta maravilhosa luz de amor que nós simbolizamos pelas lamparinas acesas no altar e pelo soar dos sinos do Natal que, a cada ano, anunciam as alegres novas do nascimento do Salvador, pois para o sentido espiritual, luz e som são inseparáveis. A luz do Natal que brilha sobre a Terra é dourada, induzindo os sentimentos de altruísmo, amor e paz, os quais nem mesmo a grande guerra consegue obscurecer.
A guerra passou e como normalmente damos mais valor ao que perdemos, esperemos que toda a humanidade se una neste Natal para o canto dos cantos "Paz na Terra e Boa Vontade entre os homens".


Temos repetido com freqüência em nossa literatura, que o sacrifício de Cristo não foi um acontecimento que teve lugar no Gólgota, nem foi consumado de uma vez por todas em poucas horas, mas que os nascimentos e mortes místicas do Redentor são contínuas ocorrências cósmicas. Concluímos que esse sacrifício é necessário à nossa evolução física e espiritual durante a presente fase do nosso desenvolvimento. Como se aproxima a época do nascimento anual de Cristo, mais uma vez é-nos apresentado um tema para meditação, um tema que nunca envelhece e é sempre novo. Podemos tirar muito proveito refletindo sobre ele e dedicando-lhe uma oração, para que faça nascer em nossos corações uma nova luz que nos guie no caminho da regeneração.
O apóstolo deu-nos uma maravilhosa definição da Divindade quando disse: "Deus é Luz", pelo que a "Luz" tem sido usada para ilustrar a natureza do Divino nos Ensinamentos Rosacruzes, especialmente o mistério da Trindade na Unidade. As Sagradas Escrituras de todos os tempos ensinam claramente que Deus é uno e indivisível. Ao mesmo tempo verificamos que, do mesmo modo que a luz branca una refrata-se nas três cores primárias - vermelho, amarelo e azul - Deus também revela-Se em papel tríplice durante a manifestação pelo exercício de três funções divinas: criação, preservação e dissolução.
Quando Ele exercita o atributo criação, Deus revela-se como Jeová, o Espírito Santo, Ele é o Senhor da lei e da geração, projetando a fertilidade solar indiferentemente através dos satélites lunares de todo planeta em que seja necessário fornecer corpos para seus seres evoluintes.
Quando Ele exercita o atributo preservação, com o propósito de sustentar os corpos gerados por Jeová sob as leis da Natureza, Deus, revela-se como Redentor, Cristo, e irradia os princípios de amor e regeneração diretamente a todo planeta, onde as criaturas de Jeová requeiram essa ajuda para libertarem-se das malhas da morte e do egoísmo, e alcançarem o altruísmo e a vida infinita.
Quando do exercício do divino atributo dissolução, Deus aparece como o Pai. Chama-nos de volta ao lar celestial para assimilarmos os fruto das experiências e do crescimento anímico que acumulamos durante o dia de manifestação. Este Solvente Universal, o raio do Pai, emana então do Invisível Sol Espiritual.
Esses processos divinos de criação e nascimento, preservação e vida, dissolução, morte e retorno ao autor de nosso ser, nós os vemos em toda parte, em tudo o que nos cerca. Então, reconhecemos o fato de que são atividades do Deus Trino em manifestação. Porventura já nos demos conta de que no mundo espiritual não existem acontecimentos definidos, nem condições estáticas; que o começo e o fim de todas as aventuras, de todas as eras estão presentes no eterno "tempo" e "espaço"? Gradativamente, tudo se cristaliza e torna-se inerte, precisando dissolver-se para dar lugar a outras coisas e outros eventos.
Não há como escapar dessa lei cósmica, que se aplica a tudo no reino do "tempo" e do "espaço", inclusive ao raio Crístico. Como o lago que se derrama no oceano volta a encher-se quando a água que o abandonou evapora-se e a ele retorna em forma de chuva, para tornar novamente a correr incessantemente em direção ao oceano, assim o Espírito do Amor que nasce eternamente do Pai derrama-se incessantemente, dia após dia, hora após hora, no universo solar para libertar-nos do mundo material que nos prende em seus grilhões mortais. Portanto, onda após onda partem do Sol em direção a todos os planetas, o que proporciona um impulso rítmico às criaturas que neles evoluem.
No sentido mais verdadeiro e literal, é um Cristo recém-nascido que saudamos em cada festa natalina, e o Natal é o mais importante acontecimento anual para a humanidade, quer tenhamos consciência disso ou não. Não se trata meramente de comemorar o aniversário de nascimento do nosso amado Irmão Maior, Jesus, mas sim da chegada da rejuvenescente vida-amor do nosso Pai Celestial, por Ele enviada para libertar o mundo do glacial abraço da morte. Sem esta nova infusão de vida e energia divinas, logo pereceríamos fisicamente, frustando o nosso progresso no que tange às atuais linhas de desenvolvimento. Precisamos esforçar-nos por compreender muito bem este ponto, a fim de que possamos aprender a apreciar o Natal da maneira mais profunda possível.
A este respeito, como em muitos outros, podemos aprender uma lição observando nossos filhos ou recordando a nossa própria infância. Como eram fortes nossas expectativas à aproximação dos festejos natalinos! Como ansiosamente esperávamos pela hora de receber os presentes que pensávamos serem deixados pelo Papai Noel, o misterioso benfeitor universal que distribuía os brinquedos! Como nos sentiremos se nossos pais nos dessem apenas as bonecas estragadas e os tamborzinhos já gastos do ano passado? A sensação seria certamente de infelicidade total, além de uma profunda quebra de confiança em tudo, sentimentos que os pais achariam cada vez mais difícil restaurar. Isso nada seria, comparado à calamidade cósmica que se abateria sobre a humanidade, se o nosso Pai Celestial deixasse de enviar como Presente Cósmico de Natal, o Cristo recém-nascido.
O Cristo do ano anterior não nos pode livrar da fome física, como as chuvas daquele ano não podem agora encharcar o solo e desenvolver os milhões de sementes que dormitam na terra, à espera de que as atividades germinadoras da vida do Pai as façam crescer. Assim como o calor do último verão já não nos pode aquecer, o Cristo do ano passado não pode acender de novo em nossos corações as aspirações espirituais que nos impelem para cima em busca de algo mais. O Cristo do ano passado deu-nos seu amor e sua vida sem restrições ou medidas. Quando Ele renasceu na Terra no Natal anterior, Ele impregnou de vida as sementes adormecidas, que cresceram e muito gratamente encheram os nossos celeiros com o pão da vida física. O amor que o Pai Lhe deu, Ele o derramou profusamente sobre nós, e do mesmo modo que a água do rio volta para o céu pela evaporação, assim também Ele eleva-se outra vez ao seio do Pai, após esgotar toda a sua vida e morrer na Páscoa.
Mas, o amor divino jorra infinitamente. Como um pai apieda-se de seus filhos, assim também nosso Pai Celeste compadece-se de nós, pois Ele conhece a nossa fragilidade e dependências física e espiritual. Por conseguinte, esperamos mais uma vez, confiantemente, o nascimento místico do Cristo que virá com renovada vida e renovado amor. O Pai no-Lo envia acudindo à fome física e espiritual que sofreríamos se não tivéssemos d’Ele essa amorosa oferenda anual.
As almas jovens, via de regra, acham difícil separar em suas mentes as personalidades de Deus, de Cristo e do Espírito Santo, de modo que algumas podem amar apenas a Jesus, o homem. Esquecem Cristo, o Grande Espírito, que introduziu uma nova era na qual as nações estabelecidas sob o regime de Jeová serão destroçadas, a fim de que a sublime estrutura da Fraternidade Universal possa ser edificada sobre as suas ruínas. No devido tempo, o mundo inteiro saberá que "Deus" é espírito, para ser adorado em "espírito e em verdade". É bom que amemos Jesus e O imitemos; desconhecemos ideal mais nobre e alguém mais digno. Se pudesse ter sido encontrado alguém mais nobre, não teria sido Ele o escolhido para ser o veículo do Grande Unigênito, Cristo, em que reside a Divindade. Fazemos bem em seguir "Seus passos".

Ao mesmo tempo devemos exaltar Deus em nossas próprias consciências, aceitando a afirmação bíblica de que Ele é espírito e que não podemos tentar representar a Sua imagem, nem retratá-Lo, pois Ele a nada se assemelha, quer nos céus quer na Terra. Podemos ver os veículos de Jeová circulando como satélites em volta de diversos planetas. Também podemos ver o Sol, que é o veículo visível de Cristo. Mas o Sol Invisível, que é o veículo do Pai e fonte de tudo, este só pode ser visto pelos maiores clarividentes e apenas como a oitava superior da fotosfera do Sol, revelando-se como um anel de luminosidade azul-violeta por trás do Sol. Mas nós não precisamos vê-Lo. Podemos sentir Seu amor e essa sensação nunca é tão grande como na época do Natal, quando Ele nos está dando o maior de todos os presentes: o Cristo do novo ano.

Fonte: http://www.fraternidaderosacruz.org/

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

JEAN BAPTISTE WILLERMOZ



JEAN BAPTISTE WILLERMOZ
Pelo Amado Irmão Sephariel - Hermanubis USA

Nasceu em Lyon em 10/07/1730, morreu na mesma cidade em 20/05/1824, era filho de Claude e Caterin Willermoz, comerciante da cidade. Devido às necessidades da família foi obrigado a deixar os estudos aos 12 anos de idade para ajudar seu pai nos negócios, três anos mais tarde ingressou como aprendiz numa loja especializada no comércio de sedas.
Tendo aprendido a profissão, instalou-se, aos 24 anos, por conta própria, pro-duzindo o comercializando sedas. Havia sido iniciado na Maçonaria aos 20 anos de idade, dois anos depois já era venerável da Loja, no ano seguinte, 1753, fundou sua própria Loja Maçô-nica, A PERFEITA AMIZADE, a qual teve um rápido desenvolvimento realizando estu-dos ocultistas e principalmente a alquimia.
Willermoz permaneceu Venerável dessa Loja durante 8 anos, dedicava parte de seus recursos às obras de caridade junto à comunidade, para o profano, era tido como um ho-mem sério, honesto, enriquecido pelo trabalho com o comércio de sedas, cristão e freqüen-tador da Igreja; pelos seus discípulos era admirado pela sua cordialidade e pela grande dedica-ção aos trabalhos maçônicos.
Na própria família, outros membros se interessaram pelo ocultismo: sua irmã mais velha, Claudine (Madame Provensal), seus irmãos Antoine e Pierre-Jaques, seu sobrinho Jean Baptiste Willermoz Neveu.
No meio ocultista era admirado pela solidez de seus conhecimentos que eram praticados juntamente com um pequeno grupo de esoteristas, escolhidos criteriosamente no seio da Maçonaria.
Durante sua longa existência, Willermoz manteve correspondência com os principais ocultistas de sua época: Martinez de Pasqually, Saint Martin, Joseph de Maistre, Savalette de Lange, Brunswick, Saint Germain, Cagliostro, Dom Pernety, Salzman e outros ocultistas alemães, franceses, ingleses, italianos, dinamarqueses, suecos e russos.
Em 21 de novembro de 1756, sua Loja filiou-se à Grande Loja da França, com a evolução dos trabalhos, Willermoz fundou uma Obediência, composta por 3 Lojas, tornou-se o primeiro Grão Mestre da Grande Loja dos Mestres Regulares de Lyon. Em 1760 as 3 Lojas contavam com 62 membros: A PERFEITA AMIZADE: 30 membros, A AMIZADE: 20 mem-bros, OS VERDADEIROS AMIGOS: 12 membros. Foi eleito presidente da GRANDE LOJA DOS MESTRES REGULARES de Lyon, em 04/05/1760, o irmão Grandon, recebeu do Conde de Clermont, o reconhecimento da Grande Loja da França e também o direito de ocul-tar os Altos Graus Escoceses.
Willermoz elegeu-se Grão Mestre da Grande Loja de Lyon em 1761 e 1762 mas não aceitou a renovação de seu mandato em 1763 para que pudesse dedicar-se mais à parte oculta. Em 1763 fundou, juntamente com seu irmão Pierre-Jacques, o CAPÍTULO DOS CA-VALEIROS DA ÁGUIA NEGRA, nele, entraram os irmãos mais instruídos das Lojas de Lyon. As reuniões eram secretas para evitar a curiosidade dos demais irmãos, a admissão de novos membros foi fechada, estudavam particularmente o simbolismo e a importância dos di-versos níveis e os catecismos dos diferentes graus e sistemas maçônicos.

Willermoz e seus companheiros não aprovavam os graus de vingança contidos em muitos sistemas maçônicos, com relação aos exterminadores da Ordem do Templo em 1313.
Os membros do Soberano Capítulo da Águia Negra, estariam ligados aos Ilumi-nados de Avignon, dirigidos por Dom Pernety, este, tinha contato com a Estrita Observância Templária, na Alemanha e provavelmente também com Dom Martinez de Pasqually e por seu intermédio, possivelmente, foi que Willermoz conheceu Pasqually e que se tornou Delegado Geral da EOT para a região de Lyon.
Com a aprovação da grande loja da França, os maçons de Lyon desenvolveram seus trabalhos sob o comando de sua própria Grande Loja, Willermoz deixou o Grão-Mes-trado em 1763, tornando-se simples Guarda-selos e Arquivista, nunca deixou de exercer al-guma função na Maçonaria.
Willermoz acreditava, desde a sua primeira admissão na Maçonaria, que Ela detinha o conhecimento de um objetivo possível e capaz de satisfazer o homem honesto. Tra-balhos e estudos há mais de vinte anos, uma correspondência particular intensa com os Irmãos mais instruídos da França e do exterior e os arquivos da Ordem em Lyon, forneceram-lhe os meios para encontrar os inúmeros sistemas, alguns mais singulares que os outros.
Willermoz era em primeiro lugar, um discípulo esforçado, dedicado aos estu-dos, em segundo, foi um grande organizador de sistemas iniciáticos, grande pesquisador, ativo e prático; pela relação com Dom Pernety, deu uma impregnação alquímica ao seu sistema ma-çônico cujo objetivo era alcançar a iluminação, realizar a Grande Obra.
Em uma viagem à Paris, em maio de 1767, encontrou Bacon de la Chevalerie, substituto da Ordem dos Elus-Cohens do Universo, no Grão Mestrado, foi nessa oportunidade que constatou pela primeira vez com a doutrina de Martinez de Pasqually. Tinha 37 anos de idade quando foi iniciado por Pasqually na Ordem dos Elus Cohens, em cerimônia realizada em Versailles, proximidades de Paris.
Bacon colocou Willermoz em contato também com outros irmãos, juntamente com seu irmão Pierre Jacques, entraram na nova Sociedade, cujo chefe era Pasqually, um dos sete chefes soberanos universais da Ordem, como ele próprio se apresentava. Iniciado há 18 anos na Maçonaria e possuidor de todos os seus graus, compreendeu que até aquele momento nada sabia da Maçonaria essencial e que havia um vasto campo de conhecimentos a percorrer.
Seus conhecimentos de alquimia, uma ampla base de conhecimentos de simbo-lismo maçônico e do ocultismo em geral, permitiram-lhe destacar-se rapidamente na Ordem dos Elus Cohens do Universo. As teorias expostas por seu novo Mestre respondiam aos dese-jos secretos que possuía e a tudo aquilo que sempre procurou. A nova Ordem detinha prescri-ções particulares à seus discípulos, era vetado o consumo de sangue, dos rins, e da graxa dos animais, recomendava a prática mundana com moderação e duas vezes por ano praticavam um rigoroso jejum; abstinham-se de toda alimentação algumas horas antes de seus trabalhos.
Pasqually concedeu-lhe o direito de estabelecer uma Grande Loja do novo rito em Lyon e deu-lhe o título de Inspetor Geral do Oriente em Lyon e fez com que entrasse como membro não residente do Tribunal Soberano de Paris. Em 13 de março de 1768, Bacon de la Chevalerie ordena Willermoz no Grau Rosa Cruz.

Willermoz iniciou longa correspondência com Pasqually, através da qual era instruído acerca das operações de equinócio e em relação aos trabalhos diários. Determinados irmãos iam de Bordeaux à Lyon para operarem com Willermoz. Os irmãos de Paris realizavam trabalhos a sós ou acompanhados por Pasqually, como o Mestre não tinha meios de estar pre-sente em todos os lugares ao mesmo tempo, havia irmãos descontentes, Willermoz procurou acalmar os irmãos, tanto os de Paris como os de Versailles e com tom moderado solicitou a assistência do Mestre em Bordeaux.
Todos aguardavam suas promessas, os discípulos impacientes esperavam a ma-nifestação do sinal do Reparador. O Mestre mandou que estudassem com mais perseverança ainda e que tivessem paciência e esperassem que a luz se faria presente no interior de cada um. Essa cobrança de que Willermoz foi o porta-voz, parece ter irritado o Mestre, que proibiu Wi-llermoz de realizar os trabalhos de determinado equinócio.
Desde 1768 Willermoz mantinha correspondência com Saint Martin, na época secretário de Pasqually, formou-se entre ambos uma forte amizade, estavam em início de car-reira iniciática e ainda bastante imaturos na Iniciação Real.
Saint Martin reconfortava o líder lyones, seu estilo elegante, seu fervor espiri-tual e seus conhecimentos de ocultismo acalmaram a mente dos irmãos de Lyon, dando-lhes coragem e paciência.
Através de Saint Martin, Willermoz em 11.07.1770, Pasqually falou-lhe de seus mestres, sendo ele próprio apenas um intérprete, possuidor do terceiro grau de uma Ordem originária dos Lendários Rosa Cruzes.
Willermoz encontrou nos novos companheiros da Ordem dos Elus Cohens: Grainville, Champoleon, Bacon de la Chevalerie, Saint Martin, entre outros, uma grande fé em Martinez de Pasqually, na imortalidade da alma e na iluminação humana. Todos praticavam as técnicas mágicas oriundas do sistema organizado por Pasqually; esperavam pacientemente o desenvolvimento espiritual que se mostrava lento para todos os discípulos.
Aguardavam a presença do agente incógnito, de la Chose, que deveria um dia manifestar-se no seu meio e aportar-lhes os conhecimentos divinos.
Com a partida de Pasqually para S. Domingos, a Ordem dos Elus Cohens co-meçou a declinar, Willermoz não esperou o desaparecimento do Mestre para agir por conta própria. Da América o Mestre escreveu-lhe colocando um fim em sua punição e dizendo-lhe que continuasse seu trabalho com a dedicação demonstrada até aquele momento, porque aca-baria obtendo o sucesso almejado nas operações.
Willermoz recebia encorajamento de Grainville e de Champoleon no sentido de lhe pacientar, salientavam a necessária distinção que se deve estabelecer entre o instrutor, falí-vel como qualquer ser humano e a doutrina secreta, divina, pura, que ele nada mais fazia de que interpretá-la.
A idéia de Willermoz de adaptar o sistema da Ordem dos Elus Cohens do Uni-verso, de Pasqually, dentro da Maçonaria, não era tarefa fácil. O sistema maçônico representa a Iniciação Primitiva e é tão antigo como a própria raça humana. Sua ritualística está inserida dentro de um contexto histórico, simbólico e iniciático.
Em 1771 recebeu instruções de Saint Martin sobre a ordem e o método, Wi-llermoz era apegado à organização e às experiências, ainda que se sentindo constantemente decepcionado pelos seus insucessos. Willermoz necessitava de provas para afirmar seu espiri-tualismo e sentia-se fascinado pelo cerimonial e pelo ritualismo. Saint Martin tentava faze-lo acessível à voz interior.
Willermoz procurava obter por carta, maiores esclarecimentos acerca dos pro-blemas que iam surgindo no transcorrer de sua jornada iniciática. Os resultados positivos da iniciação não apareciam tão rapidamente como os discípulos desejavam, era necessário muito trabalho como em qualquer sistema de iniciação, para que surgisse alguma manifestação de aprimoramento espiritual.
Difícil era encontrar adeptos capazes de professar uma Maçonaria espiritualista, havia homens dispostos a praticar a Maçonaria Ocultista tanto em Lyon, como em Metz, em Estrasburgo, em Paris, em Versailles; Willermoz mantinha contato com todos esses grupos de maçons.
Os contatos com os grupos maçons da Alemanha foram intensos a partir de 1772. Através do Venerável da Loja A Virtude, de Metz: Meunier de Précourt, Willermoz ficou sabendo da sobrevivência da Ordem do Templo na Alemanha através dos Cavaleiros Teutônicos, que era a herança externa e dos Rosa-Cruzes, o legado interno.
Em 1772, Willermoz recebeu uma carta da Loja La Candeur, de Estrasburgo, confirmando existir na Alemanha, uma Obediência Maçônica rica pelo número e pela qualidade de seus membros, fundada por Superiores Incógnitos e denominada Estrita Observância Tem-plária. Seu Grão Mestre era o Barão de Hund e o objetivo: a prática das virtudes cristãs e o desenvolvimento moral e espiritual de seus membros.
Tratava-se de uma Maçonaria Templária e Ocultista, seus membros estudavam a Cabala, a Alquimia e o Ocultismo em geral, Willermoz foi conquistado ao tomar conheci-mento dos objetivos altruísticos e da seriedade dos seus trabalhos.
Em 24 de junho de 1772, a EOT tornou-se Lojas Reunidas Escocesas e o Barão de Hund foi substituído pelo Duque Ferdinand de Brunswick.
Em dezembro de 1772, Rodolphe de Salzmann, Mestre dos Noviços do Diretó-rio de Estrasburgo, chega a Lyon para fazer a iniciação de Willermoz e de seus companheiros, na Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, como Willermoz, Salzmann era um grande admi-rador do sistema maçônico.
Paralelamente, Willermoz e Saint Martin, que em setembro de 1772 havia se instalado em Lyon, na casa de Willermoz, Trabalhavam juntos para o aperfeiçoamento do sis-tema maçônico, com base na doutrina e no sistema oriundo da Ordem dos Elus Cohens e dos demais sistemas existentes que conheciam. Willermoz pretendia através da Maçonaria, a adap-tação dos ensinamentos secretos recebidos de Pasqually.
Saint Martin permaneceu um ano em Lyon, seguiu depois para sua cidade natal e depois para Paris.
Em carta de 14.12.1772, Willermoz pedia a sua filiação na EOT, o Barão Wei-ler respondeu-lhe em 18.03.1773, que nada aceitariam que fosse contrário à sua religião de nascimento e a seus deveres de cidadãos como fiéis súditos do Rei da França. Conservaram também a ligação com a Grande Loja da França no que dizia respeito aos graus simbólicos; a ligação com a Grande Loja da Alemanha foi estabelecida somente em relação aos altos graus.
Em 1773, o Barão Weiler foi a Lyon e iniciou Willermoz e seus companheiros na EOT, deixou instalada a Loja Escocesa Retificada: La Bienfaisance, em condições de des-envolver independentemente seus trabalhos, isso aconteceu no dia 07.11.1773.
Face à decadência da parte externa da Ordem dos Elus Cohens, ocorrida a par-tir do ano de 1772, com a partida de Pasqually para S. Domingos, Willermoz encontrou no sis-tema maçônico um substituto à altura. Nesse novo sistema, pretendia espargir as luzes re-cebi-das na senda interior dos Elus Cohens e receber também a manifestação do Agente Invisí-vel; Willermoz retirou, a partir dessa época, os melhores ensinamentos de suas operações e a luz começava a brilhar no seio das trevas.
Como a Ordem dos Elus Cohens, a Eot possuía dez graus, sendo: três simbóli-cos, três intermediários e quatro superiores, esta última classe, de origem templária.
Willermoz obteve a corrente de Jacob Boheme ao ser iniciado por Salzmann e confirmada na linha mais antiga dos Templários, ao associar-se com a EOT.
Willermoz recebeu o grau de Grande Professo no Convento de Gaules, reali-zado em Lyon entre 25.11.1778 a 10.12.1778, também conseguiu com Salzmann, que se in-troduzisse após o sexto grau da EOT, os dois graus denominados: Professo e Grande Professo que continham a doutrina da Ordem dos Elus Cohens.
A EOT da região de Auvergne (Lyon) ficou conhecida pelo nome de Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa ou Maçonaria Retificada. Os graus simbólicos ficaram sendo qua-tro: Aprendiz, Companheiro, Mestre e Mestre Escocês; a classe superior ficou denominada: Cavaleiro Professo e Grande Professo.
Willermoz, tendo conseguido introduzir no sistema maçônico de Lyon, da EOT, a filiação espiritual e doutrinária de Pasqually, tentou fazer o mesmo no resto das obediências maçônicas.
No seu conceito, o RER tinha por objetivo o estudo das ciências ocultas, pre-tendia unir o ocultismo com o cristianismo, estudar o esoterismo do cristianismo, considerar a Cristo, o Reparador; crê em Cristo porém renega a autoridade do Vaticano, de Catolicismo de Roma.
No RER seus princípios aparecem como cristãos, fundamentados nos evange-lhos. O Willermosismo tendeu sempre para o agrupamento das fraternidades iniciáticas, à constituição de coletividades de iniciados dirigidas por centros ativos religados ao iluminismo.
No convento de Wilhemsbad, aberto no dia 14.07.1782, Willermoz encontrou o apoio precioso dos dois príncipes dignatários da EOT: os irmãos: Ferdinand de Brunswick, que presidiu o Convento, e Charles de Hesse, recebeu a missão de organizar o RER e foi desi-gnado Soberano Delegado Geral do Movimento para a região de Lyon.
Conseguiu também que todos os irmãos da Ordem Interior recebessem o título de Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa. E no novo conjunto de graus, no número de sete, continha todo o sistema doutrinário de Pasqually, organizado inteiramente em Lyon através de: Willermoz, Saint Martin, Grainville, Savaron e outros e que a partir do Convento de Wi-lhemsbad passou a ser adotado igualmente em toda a Alemanha e resto da França. O título "Cavaleiro Benfeitor da Cidade Santa" originou-se do nome da Loja "La Bienfaisance", de Lyon, que abrigou os primeiros cavaleiros.
Em 05.04.1785, Willermoz obteve sucesso com as suas operações, a Coisa ativa e inteligente mostrou-se aos homens. O Agente Incógnito, ser de natureza divina, teria ditado uma série de instruções aos Irmãos de Lyon, através de uma sonâmbula: Madame de Vallière:..." não rejeiteis a voz do Espírito Puro que se serve de uma mão corruptível", teria dito o Agente.
Era a prova definitiva da validade das cerimônias pela manifestação da Coisa, 13 anos após a partida de Pasqually para S. Domingos. Willermoz não rejeitou a voz do Espí-rito Puro, mensageiro da Divindade; seu grupo foi escolhido para ser o centro de irradia-ção da Luz.
Com auxílio do Invisível, Willermoz e Saint Martin adquiriram um lugar de des-taque na organização da Maçonaria Retificada e da Ordem Interior; iniciaram adeptos de toda a França e Alemanha, porém sabiam que o sucesso não seria fácil, Saint Martin disse à Willer-moz: " o espírito é como o vento, ele sopra quando quer e como quer e ninguém sabe quem ele é e de onde vem...".
Foi também no seio desta Loja que foram recrutados os membros do Conselho dos Onze que fundaram a Loja Elue et Cherie pela ação do Agente Incógnito, o mensageiro divino esperado desde o tempo de Pasqually.
No dia 10.04.1785, Willermoz comunicou aos onze irmãos de sua Loja La Bi-enfaisance, que ela passaria a denominar-se Loja Elue et Cherie, centro de uma nova socie-dade. Os irmãos escolhidos pelo Agente foram: Willermoz, Pagannuci, Graiville, Millancia, Monspey, Savaron, Braun, Périsse-Duloc, Castellas, Rachain, Antoine Willermoz. Havia um décimo segundo irmão que estava ausente dos trabalhos e o Agente disse que ele ainda não podia ser designado porque seu coração estava muito ocupado com os negócios profanos. Tudo leva a crer que se tratava de Saint Martin.
Willermoz falava sobre a iniciação: Aquele que me a transmitiu não é um ser inspirado interiormente, nem um magnetizador previlegiado, nem um ser versado nas iniciações antigas, que conhece muito menos que nós.
É um ser que goza de todos os sentidos ao escrever, que escreve quando lhe fazem pegar na pena, sem saber nada do que escreverá, nem a quem escreverá. Uma potência invisível, que não se manifesta a ele senão por diversas partes de seu corpo, toma a mão como se toma a mão de uma criança de três anos, para lhe fazer escrever o que se deseja. Ele não pode conduzir a ação, mas pode resisti-la por ato de sua vontade, que então pára de escrever; ele lê então o que sua mão escreveu e é o primeiro admirador do que vê, muitas vezes nada compreende de que escreveu, foi prevenido, desde o tempo que esse dom extraordinário co-meçou a se manifestar nele, que escreveria coisas que não deveria compreender porque não foram escritas para si, mas para aqueles a quem elas se destinavam.
O próprio Agente tinha seus superiores, "as potências celestes superiores ou secundárias" que dirigiam seus trabalhos e faziam-no escrever. Eram depósitos de conhecimen-tos admiráveis, uma doutrina da verdade.
A revelação e o desenvolvimento dessa doutrina deveria continuar, através do Agente, desde que se formasse uma nova sociedade secreta de Iniciação, cujos membros esco-lhidos individualmente pelo Agente, seriam os obreiros da décima primeira hora, os sucessores dos Apóstolos e dedicados à Grande Obra; seriam os precursores de um novo amanhã, homens regenerados pela fé e pelo trabalho.
A reunião havia sido realizada na casa de Savaron, onde Willermoz também dissertou sobre os quatro cadernos de instrução ditados pelo Agente. " Informei-vos do que se passou, de vossa eleição pessoal, do destino atribuído a esta nova Sociedade. Esforcei-me, confesso, em vos comunicar a persuasão e a confiança de que venho de ser comulado. Ao as-pecto desse depósito maravilhoso, ficaste tão admirados quanto eu... A Iniciação que ele for-necia e a forma que ele a apresentava vos pareceram um prodígio e vós permanecestes toma-dos de admiração e reconhecimento. ..assim a nova Sociedade de amigos foi fundada.
Os Iniciados da nova Sociedade não eram recrutados apenas em Lyon, um mês depois, Willermoz viu-se obrigado a aumentar sua correspondência com pessoas residentes em outras cidades. Dois amigos de Saint Martin foram iniciados: o Visconde de Saulx-Tavannes e o Saxon Tieman. Seguindo o apelo do Agente, Willermoz contatou o Cavaleiro de Barberin, Ferdinand de Brunswick e Charles de Hesse. Em 30.06.1785, a Sociedade possuía trinta mem-bros.
Quando o Abade Fournier, último secretário particular de Pasqually, soube do sucesso dos trabalhos de Lyon, partiu para essa cidade, porém, chegando à Lyon, não foi re-cebido no Templo, porque os altos graus na Ordem dos Elus Cohens nada valiam na nova So-ciedade e também porque somente seriam iniciados novos membros mediante convite especial do próprio Agente.
A decepção tocou também o Dr. Archbold, que foi também rejeitado. Essas pessoas teriam desencadeado uma série de intrigas que abalou a Sociedade.
Willermoz parou de remeter sua contribuição ao Abade Fournier.
Saint Martin também ficou sabendo da notícia, partiu de Paris, em junho de 1785, levando consigo uma bíblia em hebraico e um dicionário, para entreter-se na viagem. Pelo que se pôde perceber ele teria tido previamente contato com o Agente, porém ele teria agido como precursor não autorizado em relação ao Agente Incógnito e publicado seu livro: Dos Erros e da Verdade, sem autorização e com o pseudônimo de Filósofo Desconhecido. O próprio Saint Martin esclareceu esse ponto: "Eu sei que, em meu foro íntimo, a publicação de meus escritos jamais teve meu próprio assentimento completo. O erro que cometi em me dei-xar conhecer não em pareceu comparável ao de ter escrito. Este último erro ofendeu "La Chose" por me colocar em seu lugar, sem sua ordem; o outro erro não expunha senão minha pessoa".
Saint Martin acabou por alcançar a Graça da Reconciliação, porque os homens não são castigados eternamente. Após ter aceito o Agente como sinal da Divindade, foi rece-bido em julho de 1785, segundo as leis do Agente, sob o nome de Eques a Leone Sidero, no seio da Loja Elus et Chérie, permaneceu em Lyon até janeiro de 1786.
De abril a dezembro de 1785, cento e vinte cadernos foram escritos, somente trinta e um foram escolhidos por Willermoz para serem copiados pelos irmãos e servirem de instrução aos novos membros.
A Doutrina da Verdade ensinava que Phaleg deveria ser reverenciado como fundador da Maçonaria, no lugar de Tulbacain. Phaleg teria reagrupado pela primeira vez ho-mens em Lojas. Esta palavra Loja, ensinou o Agente, teria se originado da palavra primitiva Logos ou Verbo. O Agente trouxe um reconhecimento divino às Lojas. Lyon tornou-se o de-pósito e centro dessa bem-aventurada Luz, que a partir desse local, propagou-se por toda a Província, pela França e outros países.
Vários Homens de Desejo foram chamados em presença dos Martinistas de Lyon e se submeteram às formalidades de Iniciação na nova Ordem.
Saint Martin ajudou Willermoz a colocar em ordem os Cadernos de Instrução dos irmãos. Entre 1785 e 1787, foram iniciados várias pessoas, oriundas de inúmeras localida-des, a organização dos círculos de Iniciados em Lyon, recebia a inspiração do Agente, o Supe-rior Incógnito.
Desde a revelação, no dia 5 de abril de 1785, Willermoz, com 54 anos de idade, não cessou de trabalhar, inspirado pelo Agente, procurava suscitar nos corações de seus Inici-ados, não apenas o conhecimento das coisas transcendentais, mas a convicção de que entravam em uma Loja onde a Luz estava presente e cuja aliança com a Divindade fazia irradiar dessa Loja a Luz dos últimos tempos sobre todas as nações, e que os Maçons Retificados de Lyon formavam os elementos do novo templo escolhido.
Esperando a conclusão da Grande Obra, os Iniciados de Lyon deveriam praticar as virtudes ensinadas pelo Agente Incógnito, antes de pretenderem propagar a doutrina por todo o Universo.
A fraternidade reinante entre os irmãos castigava os recém-chegados, Gaspar de Savaron, Millanois e Périsse-Duloe salientavam-se por sua cordialidade em relação a todos os irmãos; o próprio Willermoz mostrava-se um mestre afável e hospitaleiro, irradiava amizade entre todos os irmãos.
No dia 10 de abril de 1786, os Iniciados de Lyon comemoravam o primeiro aniversário de fundação da nova Sociedade, alguns dias após, o Agente revelou que em três anos sua ação seria renovada e que um ser providencial faria a Sociedade entrar em uma fase decisiva: "Recebeis, como bons estudantes, as lições de Maria ainda no segundo ano, mas no terceiro, Jesus Cristo tornar-se-á vosso mestre. Sua sábia voz escolheu o "tipo" entre vóz".
Em abril de 1786, Willermoz colocou a disposição dos irmãos o Caderno de Instrução nº 131.
Os três primeiros anos foram de muita expectativa para todos os Iniciados de Lyon, porque aguardavam o novo Mestre Incógnito. Esperavam todos os amigos íntimos de Willermoz: Gaspar de Savaron, Grainville, Saint Martin e à distância: Charles de Hesse, Ferdi-nand de Brunswick, Bernard Turkheim, banqueiro e maçom ativo de Estrasburgo, amigo ín-timo de Salsmann.
O Agente teria também prometido comentários inéditos sobre a Bíblia e sobre os escritos dos primeiros Padres da Igreja. Até 1788 nada de novo ocorreu, o Agente suspen-deu sua ação e isto fez com que alguns discípulos ficassem com a fé abalada. Um dos irmãos, o Conde de Tavannes, apresentava de vez em quando, crise de nervos, ele tinha sido encarre-gado pelo Agente, de procurar um manuscrito grego, que apresentava revelações sensacionais e que estaria depositado na Biblioteca Imperial. Tavannes tentou encontrá-lo mas não teve sucesso e responsabilizou as doutrinas da Iniciação Lyonesa pelo seu estado de saúde. Saint Martin tinha previsto que esse acidente, bem como a falta de comunicação do Agente, iria abalar a reputa-ção dos Iniciados de Lyon.
Com efeito, os Iniciados de Estrasburgo começaram a vacilar na senda, através das dúvidas lançadas por Bernard de Turkheim, voltaram todos sua atenção para os príncipes alemães. Em 18 de junho de 1788, o Grão Mestre da Maçonaria Retificada, o Duque de Havré, depositou em Lyon, junto a Willermoz, sua demissão; em vão Willermoz tentou convencê-lo da realidade dos trabalhos, da sinceridade de intenções de todos os irmãos de Lyon.
"Infelizmente, escreveu Willermoz a Saint Martin, por essa época, aquele que recebeu a ordem de velar pelo Agente, de falar a todos em seu nome, tendo as vezes que gritar para melhor se fazer ouvir, não deixou de ser, para alguns, senão um usurpador que, ao abusar dos mistérios, aproveitava-se das circunstâncias para dominar seus irmãos... Seu cargo excitou murmúrios secretos, ciúmes... Outros preferiram duvidar de sua missão, porque ele não a man-tinha por prodígios que lhes pareciam necessários para ser acreditado."
Saint Martin, profundo conhecedor do caráter de Willermoz, vivendo na sua intimidade há quase vinte anos, acentuou suas atividades após julho de 1785, os Cadernos de Instrução passaram a ser copiados por ele.
Em 10 de outubro de 1788, Willermoz convocou uma assembléia extraordinária para tentar reconquistar a confiança dos Iniciados; não teve sucesso. Em dezembro de 1789, Saint Martin pediu demissão de Loja Maçônica de Lyon.
O Agente reapareceu em 1790, mandou destruir 80 Cadernos de Instrução, que não tinham sido copiados pelos irmãos, porém, entre 1790 e 1791 o Agente ditou mais 40 ca-dernos, tratando de: orações, liturgia, leis sobre a natureza, comentários sobre a Bíblia, etc. Em 1798, surgiu um caderno comentando criticamente as obras do Saint Martin: Dos Erros e da Verdade, A Tábua Natural, O Homem de Desejo, O Novo Homem, O Homem Espírito.
Em 1793, quando eclodiu a Revolução Francesa, o terror tomou conta da ci-dade de Lyon, Virieu desapareceu, Millanois, Grainville e o veterano Guilaume de Savaron (irmão de Gaspar de Savaron), oficiais do exército em Lyon, foram condenados pelo tribunal e fuzilados; Antoine Willermoz e Bruyzet foram guilhotinados. A obra maçônica de Willermoz sofreu a perseguição da Revolução, muitos Templos Retificados ou Cohens foram obrigados a fecharem as portas. O sistema maçônico Retificado dos CBCS passou para a Suíça, fugindo dos Revolucionários e depois de Napoleão, dando origem ao Sistema Retificado Moderno, mais tarde esse sistema voltou à França e recentemente à Alemanha.
Muitos fugiram para a Suíça, alguns para o campo, o grupo de Iniciados de Lyon ficou praticamente extinto, Willermoz foi à uma casa retirada onde se reuniam os Inicia-dos e em dois baús colocou os arquivos e os trouxe para a cidade, no dia seguinte aquela casa ficou reduzida a cinzas.
Na casa onde se alojava em Lyon, caiu uma bomba que atingiu um dos baús, desmanchando-o com todos os documentos, Willermoz fugiu levando o que restava dos do-cumentos e colocou-os em mãos seguras; parte deles ficaram com seu sobrinho Jean Baptiste Willermoz Neveu.
Willermoz, como Périsse, seguiu as funções de caridade em hospitais e escapou da condenação, ação de seu irmão Pierre-Jaques Willermoz, médico, foi decisiva para salva-lo da Revolução.
Passada a tormenta revolucionária, graças aos rituais que havia salvo, Willer-moz reorganizou a Maçonaria Espiritualista, até a morte procurou como objetivo, as práticas da virtude e da caridade e com que as Lojas e Capítulos fossem centros de seleção para os grupos de Iluminados.
A primeira parte de sua obra era clara, a segunda, oculta, Willermoz continuou sua obra sobre a terra, 19 anos após a partida de Saint Martin para o Mundo Invisível (1803), os dois Adeptos completavam-se, Willermoz destacou-se pelo seu dinamismo e pela capaci-dade de organização, usava a Maçonaria como centro de recrutamento para a Ordem Interior. Saint Martin, mais intelectual, procurava em todos os meios onde se encontrava, os Homens de Desejo para colocá-los em Sua Senda Interior. Willermoz escolheu a Maçonaria como base fundamental para preparar o Iniciado e colocá-lo em condições de marchar na Senda da Luz entre as duas colunas, até chegar ao Oriente, onde encontrará a coluna invisível que o ligará com a Divindade.
Para Willermoz, como para Saint Martin e demais Mestres do Ocultismo Oci-dental, a Iniciação Real é um trabalho eminentemente pessoal, interior.
O Homem ao encarnar ficou com o espírito por desenvolver a partir de uma centelha espiritual. O receptáculo é a Alma Humana, a Pedra Bruta que deverá ser transfor-mada e inserida na obra de construção do Templo Universal, a Jerusalém Celeste das almas regeneradas e imortalizadas pelo Verbo Divino.
Poucos anos, antes de sua morte, confiou os arquivos à seu sobrinho, seu Inici-ado, posteriormente foram legados à Élie Steel e depois à Papus (1895).

Após sua morte subsistiram Lojas de seu sistema trabalhando com êxito em toda a França, Alemanha e Itália.

Fonte: www.hermanubis.com.br