quarta-feira, 26 de setembro de 2012

IOM KIPUR



Em hebraico significa "dia da expiação". Desde os tempos mais primitivos os judeus respeitam este dia como o mais significativo de todos os dias santificados do calendário judaico.

Nas culturas primitivas praticavam-se ritos mágicos, baseados na crença de que os pecados dos indivíduos, não somente lhes causavam sofrimento pessoal como que também provocavam a ira daquele que possuía poderes invisíveis.


Historicamente, à medida que passavam os séculos também se construía no povo judeu um conceito de aprimoramento espiritual e de justiça social. Nesse processo, eles iam adquirindo sentimentos de culpa perturbadoras o que os levava a uma autorreavaliação e à compulsão de modificar esses sentimentos através do arrependimento.

No pensamento social da religião judaica, o mal feito por um indivíduo não era considerado como um assunto privado, uma vez que as consequências incidiam sobre a vida dos outros e frequentemente de toda a comunidade. Vivia-se com o temor de coisas terríveis que pudessem acontecer :desde secar os poços de água, fracasso das colheitas, epidemia de doenças e mortes no gado, tudo isso era dramático na cultura agro-pastoril. Era, portanto, uma questão de vida ou morte para a comunidade apaziguar a ira do Todo-Poderoso.

Assim, era costume realizar algumas cerimônias com o objetivo de compensar com oferendas os pecados cometidos.

No ritual de sacrifício do carneiro, no Templo, havia uma transferência mágica dos pecados cometidos para o animal, impedindo o castigo coletivo.

Com a destruição do segundo templo, na diáspora esses sacrifícios foram substituídos pelo ritual da kapará, que alguns tradicionalistas continuam fazendo até hoje.

Nessa transição, que levou vários séculos, cada vez mais o indivíduo passou a assumir a responsabilidade moral de suas próprias ações. Então, a "expiação" se torna arrependimento, uma transformação que a pessoa devia sofrer "por dentro" e alcançá-la torna-se o objetivo de todos os ritos e orações de Iom Kipur.

O dia de Iom Kipur se comemora fazendo jejum; é um dia austero no comportamento e nas vestes. A lei judaica leva o povo judeu às sinagogas onde se reza com orações contínuas de dor e arrependimento.

O Talmud explica que embora o homem se veja diante do julgamento Divino em Rosh Hashaná, o período de penitência se prolonga por dez dias até o dia de Iom Kipur, quando o julgamento da sua sorte fica selado (confirmado).

Texto de Raquel Melamed
Grupo Iachad – Na'amat Porto Alegre

sábado, 22 de setembro de 2012

Ostara



Primeiro dia da primavera (Equinócio da Primavera).
Em 2012, no Hemisfério Sul, ocorre no dia 22/Set às 11:48 



O Sabbat do Equinócio da Primavera, também conhecido como Sabbat do Equinócio Vernal, Festival das árvores, Alban Eilir, Ostara e Rito de Eostre, é o rito de fertilidade que celebra o nascimento da Primavera e o redespertar da vida na Terra. Nesse dia sagrado, os Bruxos acendem fogueiras novas ao nascer do sol, se rejubilam, tocam sinos e decoram ovos cozidos - um antigo costume pagão associado à Deusa da Fertilidade.

Os ovos, que obviamente são símbolos da fertilidade e da reprodução, eram usados nos antigos ritos da fertilidade. Pintados com vários símbolos mágicos, eram lançados ao fogo ou enterrados como oferendas à Deusa. Em certas partes do mundo pintavam-se os ovos do Equinócio da Primavera de amarelo ou dourado (cores solares sagradas), utilizando-os em rituais para honrar o Deus Sol.

Os aspectos da Deusa invocados nesse Sabbat são Eostre (a deusa saxônica da fertilidade) e Ostara (a deusa alemã da fertilidade). Em algumas tradições wiccanas, as deidades da fertilidade adoradas nesse dia são a Deusa das Plantas e o Senhor das Matas.

Como a maioria dos antigos festivais pagãos, o Equinócio da Primavera foi cristianizado pela Igreja na Páscoa, que celebra a ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa (em inglês "Easter", nome derivado da deidade saxônica da fertilidade, Eostre) só recebeu oficialmente esse nome da Deusa após o fim da Idade Média.

Até hoje, o Domingo de Páscoa é determinado pelo antigo sistema do calendário lunar, que estabelece o dia santo no primeiro domingo após a primeira lua cheia, no ou após o Equinócio da Primavera. (Formalmente isso marca a fase da "gravidez" da Deusa Tríplice, atravessando a estação fértil.) A Páscoa, como quase todas as festividades religiosas cristãs, é enriquecida com inúmeras características, costumes e tradições pagãs, como os ovos de Páscoa e o coelho. Os ovos, como mencionado, eram símbolos antigos de fertilidade oferecidos à deusa dos Pagãos. A lebre era um símbolo de renascimento e ressurreição, sendo animal sagrado para várias deusas lunares, tanto na cultura oriental como na ocidental, incluindo a deusa Ostara, cujo animal era o coelho.

Os alimentos pagãos tradicionais do Sabbat do Equinócio da Primavera são os ovos cozidos, os bolos de mel, as primeiras frutas da estação em ponche de leite. Na Suécia, os "waffles" eram o prato tradicional da época.

Incensos: violeta africana, jasmim, rosa sálvia e morango.
Cores das velas: dourada, verde, amarela.
Pedras preciosas sagradas: ametista, água-marinha, hematita, jaspe vermelho.
Ervas ritualísticas tradicionais: bolota, quelidônia, cinco-folhas, crocus, narciso, corniso, lírio-da-páscoa, madressilva, íris, jasmim, rosa, morango, atanásia e violetas.


Texto publicado em Sanctum Sanctorum .'. por Maria Conceição Baptista

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O HOMEM DAS ALTURAS E O HOMEM DA TORRENTE




O HOMEM DAS ALTURAS E O HOMEM DA TORRENTE 
Por Marc Haven (Dr. Emmanuel Lalande)

A assustadora, esmagadora a massa de obras publicadas sobre as questões religiosas: livros sagrados, comentários, apologética, história das religiões e - especialmente desde o século XVIII crítica dos textos, estudos sobre os mitos, sobre a evolução das religiões, pesquisas sobre a natureza da fé, sobre suas origens! O salão da Biblioteca Nacional não seria suficiente para abrigar todos esses livros.


É apavorante, atroz, o pensamento dos rios de sangue derramados, das torturas suportadas desde os tempos primitivos até nossos dias em nome dessas duas palavras: os dogmas, a fé.


O que existe é o homem, com um coração que ama, que gostaria de ser amado, de compreender melhor para melhor amar. E isto é tudo. É isto que sentimos, que sabemos, que nasce em nós, conosco.


O homem ama a partir do momento em que pensa. Como o feto que, tão logo desligado de sua mãe, torna-se um eu, abre sua boca, busca o ar em um primeiro grito; da mesma forma a alma humana, desde que pensa - e isto se dá muito rápido - ama, busca o amor, estende seus braços às carícias da natureza e às dos homens.

Surgiu então diante dele um homem com estátuas ou uma mulher com bonecas, todos os dois o cativando com cantos e imagens atraentes, falando de misteriosos perigos, de livros sagrados, de promessas, de ameaças, de segredos.


A partir do momento em que um homem te diz: "Eis o livro sagrado, eis o único, o verdadeiro livro; eis o Credo que se faz mister saber, vinde ao Meu Templo...", esteja certo de que tens diante de ti um homem que o orgulho, o erro ou, ainda mais freqüentemente, o interesse, fazem falar. Não discuta, fuja, fuja aterrorizado!

A partir do momento em que em tuas pesquisas teus olhos caem sobre um livro intitulado Críticas de tal religião, exposição de tal doutrina, ensaio sobre a evolução dos dogmas, etc., não o abras, foge, foge desgostoso.


Mais ainda, quando tua razão se mostra inquieta, levanta objeções sobre a antinomia da Fé e da Ciência, afasta esse fantasma, reencontra o bom cantinho, a natureza, o mundo vivente, harmonioso; foge da tua razão! foge dos demônios que deixaste penetrar em ti. Porque não são os homens, nem os livros, nem tua Ciência que irão te fornecer a solução do problema; nem o saber, nem a Paz.


É certo que se podem escrever volumes sobre volumes sem esgotar a história das loucuras, das crueldades humanas. É certo que houve segredos, conchavos, autos-de-fé, predicações e ritos desde a aurora dos tempos até nossos dias. Mas de que serviram todos esses atos, que adiantaria para ti estudá-los? Que ganharíamos com isto?

Que ganhará aquele que deixar de ser judeu para tornar-se cristão, protestante, depois católico? Não terá ele o mesmo coração, provavelmente inquieto com o mesmo escrúpulo? Não, o problema é outro e mais simples e resulta do seguinte:

Há duas categorias de seres humanos, apenas duas. Temos, de um lado, aquele que ainda possui, desenvolvido, o estado de espírito original de seus primeiros dias e que chamaremos o espírito religioso:


esse ímpeto de amor que ele havia potencialmente engendrado. Ele pode pertencer a não importa que seita, confissão ou sociedade; ele busca, deseja a felicidade para si e para os outros; ama e gostaria de ser amado. Essa emoção que o emudece diante do belo, empurra-o para o bem, é um movimento irreversível espontâneo, diante do qual ele esquece inteiramente de si. Amo, desejo, quero compreender (isto é, tomar em mim, reunir à unidade em mim). Busco por detrás do objeto da idéia sua tradução em minha língua pessoal, seu eco em meu coração, seu parentesco com aquele desconhecido que persigo por todo o Universo, sob todos os fenômenos.


Quero apenas esta relação com a unidade, um número, um local em um sistema lógico? Não, isto não passaria de um puro jogo filosófico, que não preencheria nem meu coração, nem minha vida. É o amor que me preme e que eu chamo, é um ser vivente e amante que busco, não uma fórmula. Por que? Porque sou feito assim. Não tenho a pretensão de explicá-lo, mas eu o sinto, eu o vivo, e isto ultrapassa toda explicação.

O fato de formular este problema, a emoção que me emudece, já me mostram que a solução existe, que o problema está mesmo resolvido. "Não me buscarias se já não me tivesses encontrado" (em ti).


Já encontramos estas palavras de Jesus expressadas quatro mil anos antes de sua vinda, nos textos dos Sábios da China. É um entusiasmo imperioso, não uma adivinhação filosófica fria, indiferente. Eis a diferença!


Aqueles que mantiveram em si esse fogo divino - por menos numerosos que sejam em alguma família, em algum lugar que o destino os tenha colocado, pessoas importantes no mundo ou simples camponeses, sacerdotes ou soldados - fazem parte do mesmo grupo.
Através do espaço, ignorando inclusive suas existências, eles estão unidos em um mesmo ideal. Nenhuma seita os prende, e nenhuma raça, nenhuma profissão interpõe barreira entre eles.


Esse estado de espírito não se limita a ser um sentimento improdutivo. Os que o possuem agem; seus atos são simultâneos, intercambiáveis e fecundos. Do sentimento nasce o saber, o conhecimento real, o discernimento dos espíritos (discernir os espíritos é reconhecer em cada indivíduo seu mandato, seu nome, a função para a qual ele foi criado e ajudá-lo no cumprimento de sua obra). Sua vida é caridosa por seu exemplo. O caminho se revela diante deles e eles podem indicá-lo aos outros. Esse caminho é a renúncia ao "Eu", o abandono ao espírito, o caminho da Cruz.


Mas não se trata aí de uma religião, menos ainda de uma ciência ou filosofia. A religião formula seu Deus, seu Credo. É Manu, Jeová ou o Sol. Ela cria ritos, castas, sanções, constroem templos e celas. Ela entra no mundo para a conquista desse mundo. O espírito religioso não formula nada, não limita nada, conhecedor que é da fragilidade de sua razão, da mobilidade da sua imaginação. Ele encontra o UM presente tanto na floresta quanto na cidade. Ele não materializa o espírito nas palavras ou em pedras; ao contrário, ele transmuta a matéria em espírito, sabendo que dessas pedras Deus pode fazer nascer os Filhos de Abraão. Ele faz sacrifício em todos os Templos e mesmo em lugares públicos. Fato capital que diferencia o espírito religioso do espírito do mundo, seja em meio aos acadêmicos ou às Igrejas; é que o espírito religioso é um sentimento e em nada revela ostentação. É um amor, é o Amor, enquanto que o espírito do mundo é científico, repousa sobre a experiência, sobre o raciocínio, recusando qualquer elemento emotivo.

Os que compõem esta segunda classe da humanidade são as pessoas práticas positivas: homens de negócio, de ação, os struggle for life, que observam, classificam, pensam tudo e buscam tirar o melhor partido possível de tudo o que os cerca para a ampliação do seu Eu. Eles podem atingir, no homem de ciência, no homem de estado, uma grandeza considerável, elevar-se a alturas metafísicas que, à primeira vista, se confundem com o espírito religioso, mas que dele diferem inteiramente pelo fato de partirem da sensação, atribuindo ao mundo exterior uma importância primordial; apóiam-se na razão, na lógica, como meio, e têm um único objetivo: o desenvolvimento do seu Eu ao máximo de suas possibilidades, mesmo que às expensas de outrem. É o Ser racional que não abre nele os diques do amor, a não ser que esteja seguro de auferir daí um proveito imediato ou futuro.


Ora, os dados dos sentidos nos quais ele se apóia são inverificáveis; nossas sensações subjetivas, incomunicáveis. A razão é uma máquina muito aperfeiçoada, mas que não pode trazer nenhum resultado, nenhum novo produto. Ela molda o grão; não saberia produzi-Ia. Se ela é empregada por um coração humano, dirigi da e alimentada por ele, então fornecerá um trabalho melhor ou pior, segundo o valor do operário. Mas, mesmo neste caso, ela é incapaz de nos revelar o ser e os sentimentos daquele que o emprega. Já o filósofo conhece apenas a razão, só quer servir-se dela. Ele parte do nada e chega ao nada; do desconhecido no infinitamente grande, ao desconhecido no infinitamente pequeno, das nebulosas ao átomo, da massa inexistente à força incompreensível sem ela. Ele discute inclusive os postulados de que parte e, sobre esta ciência, alicerça uma moral, uma sociologia.


Suas produções materiais, suas leis, servem o mal com a mesma intensidade que o bem. Ele se cerca de um nevoeiro, se enreda nos elos; cria para si uma vestimenta de folhas e de peles de animais que chegam a fazer desaparecer seu próprio corpo. Ao cultivar a vontade, o Eu, semeia o germe das futuras destruições. E não poderia se dar de forma diferente, já que sua inteligência, oposta ao espírito, ao UM, traz o selo do binário, da divisão.

É assim que a humanidade se encontra dividida em duas categorias de seres que, mesmo falando a mesma linguagem, mesmo que intimamente misturados em sua vida cotidiana e sob o verniz da mais perfeita cortesia, são e permanecerão eternamente inimigos. É exatamente quando têm o ar de estarem no mais perfeito acordo, é quando pronunciam as mesmas frases, que estão mais distanciados do ' coração.


Em todos os países, em todas as raças e religiões, pode-se encontrar uns - em pequeno número - e outros em massa, porque o egoísmo, a luta pela vida, reinam na humanidade. Mas essa grande massa que se inclina diante da ciência, diante da razão, a última deusa, não tem o poder que se poderia supor. Interesses, ambições, crenças, fazem de cada um o inimigo daquele que deveria ser seu companheiro de armas na batalha contra os defensores do espírito. Os homens de ação, de luta, destroem incessantemente pela própria prática de seus princípios, essas nações que eles construíram pela conquista, cercadas de fronteiras, de leis, nações sempre perturbadas por trustes, greves, guerras, revoluções, até o ponto em que não restem senão as agulhas das coníferas.

Entre eles, semeados pelo mundo, estão os outros, aqueles que chamamos "homens de espírito religioso". Artesãos, camponeses, padres ou soldados, pouco importa, são os justos de que fala o Zohar, aqueles dos quais basta um para salvar uma cidade. São os operários do Senhor, os sustentáculos do Mundo. Eles vivem irreconhecíveis no meio da multidão, desprezados em geral, longe dos colégios, das capelas, mais longe ainda das sociedades ditas iniciáticas. Em torno deles encontram-se alguns homens dotados, que vivem de sua luz, que respiram suas almas.


É a estes "homens dotados" que falamos, que lembramos a frase de Lao-Tsé: "Retornai à simplicidade primitiva", e o ensinamento do Cristo: "Se não vos tornardes crianças, não conhecereis o Reino de Deus".


Porque na simplicidade primitiva o homem possuía esse poder de amor que engendra o homem de desejo, depois o Homem-Espírito. A porta superior do seu coração se abre: o Espírito penetra nele, ele se torna UNO nesse espírito com o Senhor. Ele tem toda liberdade, todos os poderes, como disse o apóstolo Paulo: "O Senhor é espírito; lá onde está o espírito, está também a liberdade". Aí se encontra o único problema que se coloca e que se faz mister resolver; é o único caminho a seguir; é a boa nova (Evangelho) que, de idade em idade, sob formas diversas, os anjos vêm repetir, da qual eles testemunham por vezes ao custo de sua vida, sempre ao custo da sua paz e da sua felicidade, quando não se elevam a esta suprema santidade que Nosso Senhor Jesus Cristo foi o único a atingir, nas alturas da sua Cruz.


19 de agosto de 1926


Esta matéria foi republicada no N. 1 de 2002 da edição francesa de L´Initiation.
Retirado da edição em português da revista L´Initiation, N. 9 de 2003.