segunda-feira, 4 de julho de 2011

A LIVRE INICIAÇÃO



Há no momento uma discussão bastante acalorada sobre a “legitimidade” ou a “regularidade” Martinista. É certo que temos no Brasil um número bastante significativo de Organizações Martinistas legitimas, administrativamente muito bem organizadas, e estas representam e sempre representarão a maior parcela, e talvez a mais importante, do corpo Martinista universal, porém há uma corrente quase ignorada que embora pequena e silenciosa é digna de ser mencionada e discutida, trata-se dos grupos independentes.
Estes grupos que ao mesmo tempo recebem o apoio e a defesa apaixonada de alguns Martinistas, por outro lado são muito criticados, ignorados e rotulados de espúrios por outros tantos.
Ao Hermanubis Martinista, por sua natureza conciliadora e absolutamente imparcial, não compete julgar quem quer que seja, ou ainda apoiar um lado ou outro da questão. Porém achamos importante estudar, pesquisar e trazer luz sobre o assunto.
O texto que se segue trata exatamente desta questão e foi escrito pelo Amado Irmão Jean Chaboseau:
“Nosso lembrado Irmão Augustin Chaboseau ( co-fundador da primeira Ordem Martinista administrativamente organizada juntamente com Papus, e é importante salientar que Documentos da época de Papus atestam que Papus e Augustin Chaboseau iniciaram-se mutuamente, unindo as duas correntes de que eram depositários, para não deixar dúvida quanto à legitimidade das iniciações que portavam e que remontavam a Saint-Martin. ) escreveu algumas notas sobre o que chamou de sua “Iniciação” pela sua tia Amélia de Boisse-Montemart, que não deixam a menor dúvida a respeito, tratava-se unicamente da transmissão oral de um ensinamento par­ticular e de certas compressões das leis do universo e da vida espiritual, o que em nenhum caso pode-se considerar uma iniciação ritualística propriamente dita. As linhas que uniram Augustin Chaboseau, Papus e outros e que provém de Saint-Martin são, com efeito, linhas de afinidades espirituais...”
“É justamente neste ponto que aparece a profunda contradição existente, de um lado, entre o desejo de liberdade interior que deve desprender-se de todo formalismo para permitir à personalidade espiritual estabelecer-se e definir-se fora de toda classe de coletivida­des e, de outro lado, esta espécie de desmentido ao anterior que parecem aportar certos ocultistas dos fins do século XIX, ao criar suas associações, Ordens e Sociedades.”
“Existe uma qualidade de alma que caracteriza essencialmente o verdadeiro Martinista, é aquela afinidade entre espíritos unidos por um mesmo grau em suas possibili­dades de compreensão e adaptação, por um mesmo comportamento intelectual, pelas mesmas tendências, de tudo o qual se segue a constatação obrigatória de que o Martinismo está com­posto, exclusivamente, de seres isolados, solitários, que meditam no silêncio de seu gabinete, buscando sua própria iluminação.”
“Cada um destes seres tem o dever, uma vez que adquiriram o conhecimento das leis do equilíbrio, de transmitir a compreensão adquirida ao seu redor, a fim de que aqueles que forem chamados a compreender, participam daquilo que ele cria, por sua vida espiritual ou pela verdade que encerra. É aqui, então, que intervém a “missão de serviço” do Martinismo e é somente neste sentido que esta corrente espiritual especial encontra seu lugar na Tradição Ocidental.”
“É isto é tão verdadeiro que sempre se manteve nos diferentes Ramos Martinistas, o regime da Iniciação Livre, em forma paralela àquela que se conferia nas Lo­jas, como uma recordação daquela liberdade individual de que dispunha todo verdadeiro Martinista e que, em princípio, está por cima de toda “Obediência”.”
Em conseqüência, existe uma grande contradição entre o espírito digno e livre do nosso Venerável Mestre Saint-Martin, de seus sucessores, os “Superiores Incógnitos”. e a atitude de alguém que se sentiu o exclusivo depositário da Tradição do Filósofo Desconhecido, declarando-se possuidor da categoria de regulador supremo desta Iniciação e o único Martinista regular, excluindo a todos os que não o seguissem.
Ainda mais, devemos recordar que cada Filósofo Desconhecido ( também chamado de Livre Iniciador ) ou Presidente de Grupos ou Lojas Martinistas pode dar à sua coletividade a orientação espiritual que julgue mais conveni­ente, de acordo com sua consciência, conhecimento e experiência ( logicamente arcando com a responsabilidade de seus erros e enganos)
Jean Chaboseau, ex-Grão Mestre da Ordem Martinista Tra­dicional, continua afirmando:
“As distensões de toda espécie nada mais são do que a prova da ilegitimidade fundamental de toda Ordem Martinista oficializada.”
“Sinceramente desejo, em razão desta circunstância, que o Martinismo volte a ser o que sempre devia ter sido: uma simples associação de espíritos unidos pelas mesmas aspirações espirituais e guiados pelas mesmas investigações, sob a luz do Cristo... fora de toda e qualquer preocupação de Ordem ou Obediência.”
“O Martinismo é essencialmente Cristão. Não se pode conceber um Martinista que não seja um fiel discípulo de Jesus Cristo ( Yeschouá) , o Salvador e Reconciliador, Encarnação do Verbo!” ( É importante esclarecer que o conceito Martinista de Jesus, o Cristo, está mais próximo ao gnosticismo e a corrente Joanita Rosacruciana ou Cristia­nismo Esotérico da Igreja de João ). “Porém, parece que um grande número de Martinistas não esteve, ou não está compenetrado deste espírito perfeitamente universal na mais ampla significação do termo. Desejando singularizar-se, particularizar-se, desejando presidências, Grão-Mestrados, títulos, graus e honras, em nome de um Filósofo no qual a modéstia e a sensibilidade eram proverbiais, parecem ter esquecido um dos primeiros princípios ou precei­tos cristãos... “
Sabemos que os Grupos e Lojas Martinistas para seu bom funcionamento, de­vem ter sua diretoria, oficialidade, regulamentos, etc... Mas essa estrutura deve permanecer sempre enquadrada dentro dos limites essenciais e genuínos ao espírito do que chamamos Martinismo. Ele está em contradição com as vaidades, ambições, ansiedade em escalar graus, colecionar títulos e dignidades iniciáticas; são atitudes que revelam falta de maturidade espiri­tual.
O verdadeiro Martinista é um ser silencioso, humilde, tolerante e compreensivo.
Vale lembrar que nosso Venerável Mestre Saint Martin nunca foi “Martinista” pois o Martinismo nasceu de seus seguidores que foram iniciados pelo Filósofo Desconhecido no sistema de Iniciações diretas nos chamados “círculos de Íntimos” , portanto , mesmo os mais exaltados defensores do Martinismo administrativamente organizado em Ordens formais, teve invariavelmente sua corrente iniciática proveniente de um grupo independente.
Se o Martinismo pode ser praticado com sucesso em organizações independentes no passado porque não o pode hoje?
As Ordens oficialmente organizadas são a mais importante forma de trabalho Martinista, são muito mais efetivas, abrangentes, seguras e certamente tem os melhores resultados, mas nós devemos reconhecer e respeitar aqueles que escolheram um caminho diferente e mesmo assim continuam sendo nossos Amados Irmãos e agentes do Invisível. 

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