quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Apuleio



A crise ideológica de Roma no século dos Antoninos, quando o ceticismo cortesão se entrelaçou ao crescente influxo dos cultos orientais, serviu de pano de fundo à elaboração da obra de Apuleio, notável figura da literatura, da retórica e da filosofia platônica de sua época.
Lúcio Apuleio nasceu em Madaura, na Numídia (moderna Argélia), por volta do ano 124. Educado em Cartago e Atenas, viajou pelo Mediterrâneo, interessando-se por ritos de iniciação como os associados ao culto da deusa egípcia Ísis. Versátil e familiarizado com os autores gregos e latinos, ensinou retórica em Roma antes de regressar à África para casar-se com uma rica viúva, cuja família o acusou de ter recorrido à magia a fim de conquistar seu afeto. Para defender-se de tal acusação escreveu a Apologia (173), obra da qual emanam as informações disponíveis sobre sua vida.
Escreveu ainda diversos poemas e tratados, entre os quais Florida, coletânea de trabalhos de eloqüência, mas a obra que lhe deu fama foi a narrativa em prosa em 11 livros a que chamou Metamorfoses e se tornou conhecida como O asno de ouro. São aí relatadas as aventuras do jovem Lúcio, que é transformado por magia em burro e só recupera a forma humana graças à intervenção de Ísis, a cujo serviço se consagra. O episódio mais destacado dessa obra-prima de Apuleio -- o único romance da antiguidade a chegar completo aos nossos dias -- é a bela fábula de "Amor e Psiquê", que pode ser interpretada como narração puramente estética ou, então, como alegoria da união mística. O episódio, aliás, destoa do estilo do romance em geral, pois este relaciona cenas grotescas, terrificantes, obscenas e, em parte, deliberadamente absurdas.
O tema de "Amor e Psiquê" foi retomado por muitos escritores, entre os quais, no século XIX, os poetas ingleses William Morris e Robert Bridges. Outras passagens de O asno de ouro reapareceram no Decameron, de Giovanni Boccaccio, no Dom Quixote, de Miguel de Cervantes, e no Gil Blas de Alain Le Sage. Apuleio morreu em Cartago, provavelmente após o ano 170.


O Asno de Ouro: Conto de Amor e Psique
por: Andre Gazola,

O conto de Amor e Psique faz parte do livro de Apuleio publicado no séc. II a.C. que narra a história de um homem transformado em asno que perambula pelo mundo, ouvindo as histórias transcritas no livro, em forma de contos.
Psique é uma jovem belíssima, que encanta homens de todos os lugares, que ofusca a beleza de suas irmãs e que é considerada a encarnação de Vênus na terra, por ser tão bonita.
Esse título desperta a ira e a inveja da verdadeira Vênus, que não adimite ser superada por uma simples mortal.
Assim ela manda seu filho Cupido, deus do Amor, punir a jovem:
Meu filho, eu te imploro, em nome de minha ternura, pelas leves injúrias que tu fazes, pelo fogo penetrante com que consomes os corações, vinga tua mãe. Mas vinga plenamente! Que essa beleza audaciosa seja punida. É a graça que te peço e tu precisas me conceder: antes de tudo, que ela se inflame de uma paixão sem limites por alguém da escória; um miserável sem honra, saúde, chama ou casa, e que a fatalidade rebaixou ao último degrau de abjeção possível sobre a terra.
Psique passou anos sem conseguir um marido, até que seu pai, temendo intervenção divina, foi consultar o oráculo para saber o que acontecia. A resposta foi categórica:

Que com seus belos adornos a virgem abandonada
Espere sobre uma rocha um casamento fúnebre.
O esposo não recebeu o dia de um mortal:
Ele tem a crueldade, as asas do abutre;
Ele destroça corações, e tudo que respira
Sucumbe, gemendo, sob tirânico império.
Os deuses, no Olimpo, arrastam seus grilhões.
E o Estige contra ele defende mal os infernos.

Com muita tristeza foi seguida a prescrição do oráculo, Psique foi levada a uma rocha no cume de escarpadas montanhas e lá deixada, para que a lúgubre união ocorresse.
Logo, pelo sopro de Zéfiro, ela foi levada a um vale florido, onde encontrou um palácio maravilhoso, onde magicamente foi lhe servida uma refeição soberba e preparado um banho revigorante. Todas as riquezas e tesouros do mundo estavam ali para ela.
No entanto, ela estava só. Onde estaria o esperado marido?
À noite então, ao deitar-se em sua cama de princesa, sente que não está só. Seu marido, aquele que ela não pode ver em meio a penumbra, surge para acompanhá-la.
Daquele dia em diante sua vida seria assim, em meio a todas as riquezas mundanas ela receberia seu prometido, sem poder vê-lo.
No início tudo era um mar de rosas, mas com o tempo ela sentia-se sozinha, tinha saudades de suas irmãs e pais, que também não aguentavam a perda de Psique.
O tempo passou e finalmente as irmãs, levadas por Zéfiro, puderam visitar Psique. Ela lhes mostrou como era sua vida agora, falou sobre seu marido e fez invejar toda a opulência em que vivia. Isso fez com que, assim que voltassem para casa, começassem a traçar um plano com objetivo de arruinar a vida daquela que, segundo elas, não merecia tamanhos privilégios. A inveja havia tomado suas mentes.
O misterioso marido alertava-a todas as noites, para que ela não ouvisse suas irmãs, pois assim seu casamento e o amor que sentiam um pelo outro acabaria.
Sem ouvi-lo, Psique, durante a noite, tenta assassinar o esposo com um punhal. Mas ao vê-lo, estremece ao saber que aquele a quem amava era nada menos do que Cupido, o deus do Amor, a mais bela das criaturas.
Agora seu casamento estava acabado e os dois seriam punidos com a ira de Vênus.
No entanto, Psique estava motivada a desafiar até mesmo a ira de sua rival para ser feliz com seu amado. Mas como ela poderia suplantar o poder de uma deusa da magnitude de Vênus?
Como terminará a história de Psique?

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