segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rabindranath Tagore


Poeta, contista, dramaturgo e crítico de arte hindu; nascido em Calcutá. Nasceu no dia 7 de Maio de 1861. Ele foi o maior poeta moderno da Índia e o gênio mais criativo da renascença indiana.Além de poesia, Tagore escreveu canções (letras e melodias), contos, novelas, peças de teatro (em prosa e verso), ensaios sobre diversos temas incluindo críticas literárias, textos polêmicos, narrativas de viagens, memórias e histórias infantis: O Jardineiro, O Carteiro do Rei, e Pássaros Perdidos. Grande parte de sua obra está escrita em Bengali. Gitanjali (1912), uma tradução e interpretação de uma obra poética em Bengali do original de 1910 fez com que Tagore ganhasse o Prêmio Nobel de Literatura em 1913.Seu pensamento abriu novos caminhos para a interpretação do misticismo, procurando atualizar as antigas doutrinas religiosas nacionais. Colaborou em revistas americanas, tendo obras publicadas em francês, inglês e espanhol . Realizou conferências no Uruguai, Argentina, França, Estados Unidos. Recebeu o título de "Doutor Honoris Causa e Membro Honoris Causa" de universidades e associações do Brasil e outros países, e de Oficial da Legião de Honra da França e da Ordem do Leão Branco da Tcheco-Eslováquia.Morreu em 7 de agosto de 1941 na casa onde nasceu, em Calcutá.~ Poemas de Rabindranath Tagore ~~ Se não Falas ~Se não falas, vou encher o meu coraçãoCom o teu silêncio, e agüentá-lo.Ficarei quieto, esperando, como a noiteEm sua vigília estrelada,Com a cabeça pacientemente inclinada.A manhã certamente virá,A escuridão se dissipará, e a tua vozSe derramará em torrentes douradas por todo o céu.Então as tuas palavras voarãoEm canções de cada ninho dos meus pássaros,E as tuas melodias brotarãoEm flores por todos os recantos da minha floresta.~ Flor de Lótus ~No dia em que a flor de lótus desabrochouA minha mente vagava, e eu não a percebi.Minha cesta estava vazia e a flor ficou esquecida.Somente agora e novamente, uma tristeza caiu sobre mim.Acordei do meu sonho sentindo o doce rastroDe um perfume no vento sul.Essa vaga doçura fez o meu coração doer de saudade.Pareceu-me ser o sopro ardente no verão, procurando completar-se.Eu não sabia então que a flor estava tão perto de mimQue ela era minha, e que essa perfeita doçuraTinha desabrochado no fundo do meu coração.~ Verdades ~Roubo do hoje a forçaFazendo nascer o amanhã.Da janela acompanho com olharAs nuvens do céu.De novo a sombra sinistraTolda tristemente meus sonhos.Tua imagem me acompanhaPor todos os lugares por onde ando.E em todos os momentosÉ a tua presença que espantaAs brumas do desconhecido.Não faço perguntas.Tenho medo das respostas que já sei.Liberta do invólucro físicoDevolverei a matéria ao pó de que fora feito.Vivi meus três caminhos na terra.Purgatório. Inferno. Céu.Tudo de acordo com meus projetos,Minhas atitudes,Procurando não cair nos mesmos erros.Agora — vago e esperoEntre tropeços e flagelosO ressurgir da verdade.~ A Lua Nova ~Como discutem e como gritam!Como desconfiam e se desesperam!Nunca param de brigar!Que tua vida se ponha entre eles, inalterável e puraComo uma língua de luzE lhes imponha silêncio com sua formosura.Que cruéis os torna a cobiça e o ciúme! ComoViolências disfarçadas sedentas de sangue são suas palavras.Ponha-se entre seus corações irados e queTeu olhar sublime caia sobre eles como cai a indulgentePaz do anoitecer sobre a batalha do dia.Deixe que olhem tua faceE que assim compreendam o sentido de todas as coisas.Que te amem, e assim amem um ao outro.Vem ocupar teu lugar nos braços do Eterno.Abre e levanta teu coração ao nascer do sol, como uma nova flor.E quando o sol se pôr, inclina tua cabeça e rezeEm silêncio a oração da tarde.~ Se me é negado o amor ~Se me é negado o amor, por que, então, amanhece;por que sussurra o vento do sul entre as folhas recém nascidas?Se me é negado o amor, por que, então,A noite entristece com nostálgico silêncio as estrelas?E por que este desatinado coração continua,Esperançado e louco, olhando o mar infinito?~ Aforismos ~Como as gaivotas e as ondas se encontram, nos encontramos e nos unimos.Vão-se as gaivotas voando, vão pairando sobre as ondas; e nós também vamos.Se de noite choras pelo sol, não verás as estrelas.A luz do sol me saúda sorrindo.A chuva, sua irmã triste, me fala ao coração.Se faço sombra em meu caminho, é porque há uma lâmpada em mim que ainda não foi acesa.Teu sol sorri nos dias de inverno de meu coração, e não duvido jamais das flores de tua primavera.Quando o dia cai, a noite o beija e lhe diz ao ouvido:'Sou tua mãe a morte, e te hei de dar nova vida'.O mistério da vida é tão grande como a sombra na noite.A ilusão da sabedoria é como a névoa do amanhecer.Lemos mal o mundo, e dizemos logo que nos engana.A borboleta conta momentos e não meses, e tem tempo de sobra.Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei.Cada criança nos chega com uma mensagem de que Deus ainda não se esqueceu dos homens.Elogios me acanham, mas secretamente imploro por eles.~ Desejo ~Desejo dizer-lhe as palavras mais profundas, mas não me atrevo, porque temo sua gozação. Por isso acho graça de mim mesmo e transformo em brincadeira meu segredo.Duvido de minha angústia, para que você não duvide.Desejo dizer-lhe as palavras mais sinceras, mas não me atrevo, porque temo que não acredite. Por isso as disfarço de mentiras e digo o contrário do que penso.Me esforço para que minha angústia não pareça absurda para que você não ache que é.Desejo dizer-lhe as palavras mais valiosas, mas não me atrevo, porque temo não ser correspondido. Por isso me declaro duramente e me orgulho de minha insensibilidade.Desejo sentar-me silenciosamente a seu lado, mas não me atrevo, porque temo que meus lábios traiam meu coração. Por isso falo disparatadamente, escondendo meu coração atrás das minhas palavras.Trato a mim mesmo com dureza, para que você não o faça.Desejo separar-me de você, mas não me atrevo, porque temo que descubra minha covardia. Por isso levanto a cabeça e fico perto de você com ar indiferente.A constante provocação de nossos olhares remove minha angústia sem piedade.~ Minha canção ~Minha canção te envolverá com sua música, como os abraços sublimes do amor. Tocará o teu rosto como um beijo de graças. Quando estiveres só, se sentará a teu lado e te falará ao ouvido. Minha canção será como asas para os teus sonhos e elevará teu coração até o infinito. Quando a noite escurecer o teu caminho, minha canção brilhará sobre ti como a estrela fiel. Se fixará nos teus lindos olhos e guiará teu olhar até a alma das coisas. Quando minha voz se calar para sempre, minha canção te seguirá em teus pensamentos.~ Presente de amante ~Ela está perto de meu coração, tão linda quanto uma flor no jardim; é suave, como é o descanso para o meu corpo. O amor que lhe tenho é minha vida fluindo plena, como corre o riacho nas manhãs de outono, em sereno abandono. Minhas canções são únicas como meu amor, como é único o murmúrio de um rio que canta com todas suas ondas e correntes.Na luz desta manhã de primavera, canta, poeta, daqueles que passam sem se deter, que vivem sorrindo sem olhar para trás, que florescem em uma hora de deleite sem sentido, e se entristecem num instante, sem pensar. Não fique calado, recitando o rosário de suas lágrimas e alegrias que passaram; não pare para colher as pétalas caídas das flores; não corra atrás do que é enganoso, por desconhecer o seu sentido. Deixe as coisas insignificantes de sua vida onde estão, para que a música surja de suas profundezas.Durante a noite, no jardim, lhe ofereci o vinho espumante de minha juventude. Você bebeu, fechou os olhos e sorriu; e enquanto eu levantei seu véu, soltei suas tranças e deitei em meu peito seu rosto docemente silencioso; durante a noite, quando o sonho da lua embalava o seu sono. Agora, na calma refrescada do campo, você caminha em direção ao templo de Deus, banhada e vestida de branco, com uma cesta de flores na mão. Eu, à sombra da árvore, deito a cabeça; na calma refrescada do campo, junto ao caminho solitário do templo.~ Meditação ~O amanhã pertence a nós!Ó Sol, levanta-te sobre os corações que sangramE desabrocham como flores na manhã,E também sobre o banquete do orgulho,Ontem iluminado por tochas, e hoje reduzido a cinzas...

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